A Balada de Narayama é um filme baseado na história de Shichiro Fukazawa. Vencedor do Festival de Cannes de 1983, o longa do diretor Shohei Imamura nos mostra o cotidiano de uma pequena vila no norte do Japão, no final do século XIX. Isolados entre as montanhas seus habitantes têm um cotidiano restrito basicamente à produção de alimentos, que mesmo com todo o esforço dos habitantes, é bem limitada.
Deparamos-nos com um modelo de sociedade cujo modo de produção difere drasticamente do que estamos acostumados e isso implica em muitas curiosidades. Nossa sociedade capitalista é baseada no consumo e acumulação, assim cada trabalhador produz muito mais do que pode consumir para que o excedente possa ser comercializado. Na pequena vila japonesa cada um produz sua própria unidade de consumo, não há trabalho alienado ou exploração do mesmo por terceiros gerando mais-valia, mas as técnicas de plantio e caça são rudimentares e o inverno rigoroso, sendo que quando a produção é baixa não há excedentes para a parcela improdutiva da população, ou seja, crianças muito pequenas para o trabalho e idosos já incapazes de produzir. A solução para este problema não é exclusiva da sociedade em questão, mas para nossos padrões é verdadeiramente inimaginável.
Não existe a possibilidade de aumento da população, portanto novas crianças só são aceitas quando há alguma morte – uma espécie de reposição, deixando densidade populacional estável. Para resolver o problema de um nascimento quando não houve nenhum óbito as meninas são vendidas, sendo levadas para longe da vila, e os meninos são mortos, enterrados ou jogados no riacho.
Não menos chocante é o destino dos idosos. Quando começam a perder os dentes (por volta dos setenta anos) devem deixar a vila, ainda que estejam lúcidos e possam contribuir com trabalho. Os dentes perdidos são uma espécie de sinal de que já não podem contribuir para o próprio sustento, logo se tornarão um peso para seus descendentes. Os idosos são levados por um membro da família até Narayama, uma montanha que abriga os restos mortais de diversas gerações de idosos, para perecer e assim deixar espaço sociedade para um novo membro. Podemos notar no filme que certas vezes este ritual (bastante mórbido para nossos padrões) é encarado com relutância pelos idosos, porém a grande tradição faz com que outros aguardem ansiosamente pela data, por vezes contribuindo para adiantar o afastamento, acreditando que esta é uma oportunidade de rever os antepassados. Todo o conhecimento e experiência de vida de um sexagenário, ainda mais valioso em uma sociedade sem tradição escrita, deve ser refutado em prol dos mais novos.
Há uma forte influência naturalista em diversas tomadas cuja sequência mostra animais e insetos alimentando-se de outros ou procriando, indicando uma semelhança entre estes e os seres humanos, cuja vida limita-se basicamente a trabalhar, colhendo alimentos para o estoque que deve durar todo o rigoroso inverno, e procurar por sexo – fato enfatizado aos homens – ainda que a procriação só seja permitida após a morte de algum integrante da sociedade. Outra aproximação mais sutil com o mundo animal é notada diante de situações conflituosas, resolvidas geralmente com brigas e agressões.
Em relação à sociedade moderna, notamos entre os japoneses uma grande preocupação com a alimentação além da versatilidade e variedade dos pratos asiáticos. Geralmente essa característica é atribuída aos períodos de guerra, que muitas vezes castigaram a população local espalhando a fome pelo oriente. Neste filme notamos mais um fator, ou seja, os períodos cujas técnicas de produção eram rudimentares ao ponto de não haver alimentação suficiente para todos. No Brasil vivemos a outra face da moeda, e o lado ruim de nossa falta de experiência com a grande escassez de alimentos é notado no paradoxo de um país que exporta comida para o mundo todo, vendo sua própria população passar fome em muitas regiões, com cerca de 30% da produção de alimentos perdida durante o transporte ineficiente da mesma.
Deparamos-nos com um modelo de sociedade cujo modo de produção difere drasticamente do que estamos acostumados e isso implica em muitas curiosidades. Nossa sociedade capitalista é baseada no consumo e acumulação, assim cada trabalhador produz muito mais do que pode consumir para que o excedente possa ser comercializado. Na pequena vila japonesa cada um produz sua própria unidade de consumo, não há trabalho alienado ou exploração do mesmo por terceiros gerando mais-valia, mas as técnicas de plantio e caça são rudimentares e o inverno rigoroso, sendo que quando a produção é baixa não há excedentes para a parcela improdutiva da população, ou seja, crianças muito pequenas para o trabalho e idosos já incapazes de produzir. A solução para este problema não é exclusiva da sociedade em questão, mas para nossos padrões é verdadeiramente inimaginável.
Não existe a possibilidade de aumento da população, portanto novas crianças só são aceitas quando há alguma morte – uma espécie de reposição, deixando densidade populacional estável. Para resolver o problema de um nascimento quando não houve nenhum óbito as meninas são vendidas, sendo levadas para longe da vila, e os meninos são mortos, enterrados ou jogados no riacho.
Não menos chocante é o destino dos idosos. Quando começam a perder os dentes (por volta dos setenta anos) devem deixar a vila, ainda que estejam lúcidos e possam contribuir com trabalho. Os dentes perdidos são uma espécie de sinal de que já não podem contribuir para o próprio sustento, logo se tornarão um peso para seus descendentes. Os idosos são levados por um membro da família até Narayama, uma montanha que abriga os restos mortais de diversas gerações de idosos, para perecer e assim deixar espaço sociedade para um novo membro. Podemos notar no filme que certas vezes este ritual (bastante mórbido para nossos padrões) é encarado com relutância pelos idosos, porém a grande tradição faz com que outros aguardem ansiosamente pela data, por vezes contribuindo para adiantar o afastamento, acreditando que esta é uma oportunidade de rever os antepassados. Todo o conhecimento e experiência de vida de um sexagenário, ainda mais valioso em uma sociedade sem tradição escrita, deve ser refutado em prol dos mais novos.
Há uma forte influência naturalista em diversas tomadas cuja sequência mostra animais e insetos alimentando-se de outros ou procriando, indicando uma semelhança entre estes e os seres humanos, cuja vida limita-se basicamente a trabalhar, colhendo alimentos para o estoque que deve durar todo o rigoroso inverno, e procurar por sexo – fato enfatizado aos homens – ainda que a procriação só seja permitida após a morte de algum integrante da sociedade. Outra aproximação mais sutil com o mundo animal é notada diante de situações conflituosas, resolvidas geralmente com brigas e agressões.
Em relação à sociedade moderna, notamos entre os japoneses uma grande preocupação com a alimentação além da versatilidade e variedade dos pratos asiáticos. Geralmente essa característica é atribuída aos períodos de guerra, que muitas vezes castigaram a população local espalhando a fome pelo oriente. Neste filme notamos mais um fator, ou seja, os períodos cujas técnicas de produção eram rudimentares ao ponto de não haver alimentação suficiente para todos. No Brasil vivemos a outra face da moeda, e o lado ruim de nossa falta de experiência com a grande escassez de alimentos é notado no paradoxo de um país que exporta comida para o mundo todo, vendo sua própria população passar fome em muitas regiões, com cerca de 30% da produção de alimentos perdida durante o transporte ineficiente da mesma.