Existem várias formas de abordar um tema polêmico em filmes. A adotada pelos diretores Sharon Maymon e Tal Granit utiliza o humor para aliviar o peso de algumas cenas mais tensas, que são inevitáveis ao falar sobre abreviar a vida de doentes terminais.
Toda a trama é vivida por um grupo de idosos que moram em uma casa de repouso em Jerusalém. Diante do sofrimento de um deles, que no leito do hospital pedia insistentemente para que encerrassem com sua dor através da eutanásia, o grupo passa a discutir a viabilidade de, contra a lei, tomar alguma atitude que resultasse na morte, e consequente alívio, do amigo.
Até esse ponto já temos uma polêmica gigantesca, debatida por vários setores da sociedade há séculos. O médico do grupo lembra o juramento de Hipócrates para alegar que não pode fazer nada neste sentido, os demais se questionam quanto à legalidade do ato, além do constrangimento de ajudar um amigo a acabar com a própria vida.
Com um tema tão controverso, dificilmente um consenso é encontrado. No filme não é diferente. Ainda assim Yehezkel (Ze'ev Revach) cria uma máquina que, acionada pelo próprio paciente, libera anestésico e depois uma substância letal. O sofrimento do paciente pode terminar, mas sem dúvida aqueles que seguem a vida vão precisar de tempo para se recompor.
Tudo parecia resolvido, não fosse pelo fato de um desconhecido ficar sabendo da máquina e ter a esposa em uma cama de hospital, pedindo pela eutanásia. Nessas horas parece que nosso senso de justiça por direitos iguais é aflorado e nada convence o personagem a desistir de ajudar a esposa.
Sempre com humor os diretores mostram como pode ser grande a demanda pela eutanásia. A grande maioria das pessoas sonha com uma morte súbita, indolor, com total repulsa à ideia de ficar entubado em um quarto de hospital. Ainda que a prática fosse legalizada, a decisão final seria difícil para todos os envolvidos. Desde o médico que cuida do paciente e considera a possibilidade de cura, até a família que além dessa mesma hipótese encara a dificuldade de perder uma pessoa importante.
Um de tantos problemas que pairam sobre o tema é a diferença de percepção de quando olhamos para um caso distante e quando vivenciamos o problema de perto. Uma coisa é imaginarmos o que faríamos diante de uma situação semelhante a do filme, onde um idoso sofre sem esperança – talvez até sem vontade – de melhora. Outra coisa bem diferente é olharmos para uma pessoa com quem temos forte laço afetivo, em uma situação extremamente delicada em um hospital.
Ouvir o desejo enfático de morrer e até considerar, racionalmente, que esta seja a melhor opção não nos garante a frieza de auxiliar de alguma forma a eutanásia. É uma dessas situações cuja reação que nos suscitará é imprevisível, só quem vive é que pode dizer qual é a própria reação.
Com a disseminação da procura pela máquina inventada por Yehezkel outro problema vem à tona. Qual o momento de recorrer à máquina? Na ânsia por abreviar o sofrimento é inevitável o risco de impedir uma possível cura, ou ainda, na ausência de um laudo médico, nada garante que o paciente não esteja dramatizando uma situação que justifique seu real desejo de encerrar sua vida. Com a depressão na terceira idade se manifestando de forma bastante comum e com difícil diagnóstico, um idoso do filme pode simplesmente querer a eutanásia para se livrar de uma vida solitária e infeliz, ao invés de passar por um tratamento psiquiátrico.
Podemos pensar também nas doenças degenerativas. O limite da tolerância é inexistente. Cada paciente tem sua própria avaliação, que pode ir em sentido contrário ao dos médicos e das pessoas próximas sobre o próprio estado de saúde. É uma análise pessoal, porém sempre tendenciosa, pelo fato da pessoa sempre considerar a relevância de se evitar futuros sofrimentos e constrangimentos causados pelos sintomas de sua doença.
Além de abordar os temas polêmicos e tensos de uma forma bastante sensível, estimulando nossa reflexão acerca do que é exibido, os diretores também têm o grande mérito de conseguir inserir humor na medida certa, aliviando a tensão e divertindo à medida em que também instrui. É um equilíbrio difícil de ser acertado, mas como bem podemos ver neste caso, o resultado pode ser muito agradável.