A história deste longa é bastante simples, mas tem a capacidade de instigar muitas reflexões. Basicamente um pai (Viggo Mortensen) parte da Dinamarca com sua filha (Viilbjørk Malling Agger) em busca de Jauja, um paraíso mítico, cercado de mistérios.
Contrariando a expectativa de uma vida perfeita almejada pelo pai, a menina foge com um soldado que conheceu e por quem se apaixonou no caminho. A partir de então a meta do pai passa a ser encontrar a moça, para isso ele parte em uma jornada solitária e longa, na qual o papel do ator ganha destaque, já que na ausência de diálogos a atuação deve transmitir emoções e ações de forma mais clara.
Os elementos da trama não são novos, mas rearranjados com competência pelo diretor Lisandro Alonso. A busca por uma terra livre de problemas é constante na história; no ocidente cristão ela existe desde que Deus expulsou os homens do Éden, condenando a humanidade a viver fora do paraíso.
A dúvida que fica neste ponto do filme é quanto ao que seria feito pelos homens em uma terra supostamente paradisíaca. No plano individual todos se julgam aptos para viver na terra prometida, deixando para trás aspectos de nosso cotidiano dos quais não sentiríamos nenhuma saudade.
Porém o que vemos no filme são soldados treinados e impiedosos nas batalhas buscando uma terra que seja pacífica. Não é necessário ser um grande historiador para saber que não existem terras com ou sem problemas, eles se desenvolvem de acordo com as relações pessoais de seus habitantes. Um desenrolar quase previsível de um novo local subitamente habitado pelos soldados do filme seria a reivindicação de um exército para proteger a sociedade de possíveis invasores, a partir daí é gerado uma classe poderosa e dominadora, que desestabiliza todo o equilíbrio harmônico que se espera de moradores de um lugar tão idealizado.
Pela quantidade de lendas sobre terras prometidas e lugares míticos, cujo simples acesso garantiria uma vida perfeita, é notável que coletivamente esquecemos o potencial que temos desperdiçado ao longo da história ao encontrarmos terras com grandes chances para uma sociedade senão perfeita, ao menos aceitável.
Já contamos com uma bagagem cultural que deveria ser suficiente para percebermos nossa responsabilidade – as vezes individual, as vezes coletiva – nos problemas do local em que vivemos, portanto mais eficiente que migrar para uma terra perfeita, seria investirmos na melhoria da sociedade de forma igualitária, para que possamos nos aproximar de uma vida tranquila e com menos problemas.
No filme a prova de que o ideal de terra perfeita é muito particular, portanto inviável para uma sociedade, vem do próprio núcleo familiar do protagonista, ainda que ele viaje somente com a filha.
É de se esperar que uma adolescente tenha um ideal de felicidade muito distinto daquele que seu pai planeja, desta forma a menina foge com um dos soldados fazendo com que o pai desista da procura por Jauja e passe a ter como única meta reencontrar a filha.
O que fica claro depois da jornada do pai é que uma terra paradisíaca, independente do nome que seja dado, seria a materialização de um sonho pessoal. Cada um teria sua própria terra dos sonhos, de forma que em essência seria muito tênue a diferença entre a Jauja do filme e a Terra no Nunca, que materializa a perfeição idealizada por uma criança.
A viagem do protagonista é longa e intensa. Acompanhamos de perto as angústias e apreensões do pai, o que faz com que o filme seja longo. Talvez pudesse ser um pouco mais curto, porém essa é uma característica necessária ao drama. Seu tempo é diferente de uma comédia, que pede cenas curtas e dinâmicas. É acompanhando os detalhes da personagem do filme que sentimos mais diretamente as emoções que precisamos absorver da obra.
Como dito no início, a história do filme é simples e com poucos elementos, somado a isso temos um filme longo, que nos proporciona pensar bem em cada detalhe apresentado na história. Vale a pena considerarmos a viabilidade da ideia de buscar uma terra distante, que deixe para trás os problemas e nos ofereça uma vida livre de preocupações. Vemos que os problemas existem em qualquer lugar e talvez seja mais eficiente pensar em nossa atuação no próprio local em que vivemos do que sonhar com terras oníricas.
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