terça-feira, 12 de novembro de 2013

Frances Ha

Em meio às megaproduções, com efeitos especiais megalomaníacos e cenas que despertam o famoso comentário “só no cinema”, por vezes aparecem algumas obras que quebram essa tendência e se destacam mesmo sem esses elementos.

Sem efeitos especiais e filmado em preto e branco, Frances Ha, do diretor Noah Baumbach, traz um enredo simples, um recorte da vida da protagonista Frances (Greta Gerwig), que vive em Nova York, com um estilo de vida tão caótico quanto a cidade que a acolhe e bem diferente da vida tranquila que sua família leva em uma pequena cidade do interior.

O filme tem sido muito elogiado e com mérito. É divertido, bem produzido, com boa trilha sonora e em pouco tempo nem percebemos que o preto e branco da fotografia é incomum para o cinema atual. Apesar disso, o filme tem um elemento a mais para algumas pessoas: a identificação.

O roteiro se repete em qualquer metrópole, que a exemplo de Nova York atrai jovens de várias partes do país, atraídos por oportunidades de emprego, estudo, diversidade cultural e a possibilidade de construir a vida de forma distinta das opções de pequenas cidades.

Claro que nem tudo são flores na vida de Frances. Diga-se de passagem, nem tudo são flores na vida de ninguém. Os contatos pessoais em sua vida ficam por conta das amizades, que são fortes, intensas e verdadeiras, mas que geralmente esbarram em conflitos de interesses difíceis de serrem sanados.

Os laços familiares têm influência muito maior em nossas decisões. Podemos recusar oportunidades ou mudar de planos. Quando nos frustramos ao sacrificar desejos em troca de melhor relacionamento familiar, a sensação de obrigação tenta equilibrar a frustração. Entre amigos, por mais forte que seja o elo, diante de um impasse muitas vezes é necessário tomar uma decisão mais individualista, sem que isso seja errado ou condenável. São apenas caminhos paralelos que chegam a uma bifurcação.

Além dos impasses entre amigos, as grandes cidades como oportunidades de emprego costumam criar algumas frustrações. De fato oferecem mais vagas e mais diversidade de carreiras, o que é fundamental para Frances, que é bailarina. Porém a concorrência também é grande e a visão utilitarista que persiste na sociedade faz com que algumas profissões sejam pouco valorizadas.

Independente de como esteja a situação profissional, as contas são implacáveis. O aluguel é caro, o pagamento é inadiável e não importa se o emprego que sustenta o morador simplesmente desaparece. As peças de reposição em um grande centro urbano são numerosas e se alguém não pode pagar, deve simplesmente sair e dar lugar à outra pessoa. Não importa para onde vai ou como vai viver. Injusto, sem dúvida, mas real.

Com tantos percalços, o que segura Frances em Nova York, ao invés de retornar e viver a vida tranquilamente com sua família?

A protagonista é o tipo de pessoa que não caberia em uma pequena cidade. Dribla as dificuldades para poder viver intensamente os problemas e vitórias, faz novas amizades, muda de apartamento, de emprego, só não abandona o estilo despojado que marca sua personalidade.

A excentricidade, comumente criticada, porém com mais ênfase em locais homogêneos, com pouca diversidade, costuma encontrar pares em grandes centros, gerando um sentimento de identificação e conforto. Frances só tem os amigos. Abriu mão do namorado e apesar de procurar alguém, não coloca essa busca como única meta de sua vida, pois como fica evidente, seu tempo está bastante ocupado para se adequar a alguém.

Relações mais distantes, como a amizade, permitem a flexibilidade necessária para que a personagem se mantenha excêntrica, sem que isso atrapalhe sua vida. Pode assim aproveitar o Natal na casa dos pais, viajar a Paris e voltar em dois dias para procurar um emprego, desabafar com pessoas que mal conhece e buscar seus sonhos sem que isso signifique um romantismo vazio.

Se por um lado as raízes de Frances são frágeis, o que não lhe garante estabilidade, por outro a moça encara os problemas com a consciência de que nem tudo é eterno, usando a instabilidade da vida a seu favor. Sabe abrir mão do que gostaria de manter, mas não pode. Respeita o tempo para que sua grande amiga viva uma história particular longe dela, antes de reatar o contato. Procura emprego, amigos, diversão, tudo.

Que o filme é bom, não há dúvidas. O que vale a pena ressaltar é como o filme atinge quem encontra na vida de Frances um pouco de si.


Um comentário:

Adecio Moreira Jr. disse...

Considero um filme extremamente simpático e rejuvenescedor. Valeu o ingresso!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...