terça-feira, 15 de setembro de 2015

Pais e filhos (Soshite Chichi Ni Naru)

Neste longa o diretor Hirokazu Koreeda não chega a abordar um tema inovador. O guia central do filme já foi filmado diversas vezes, porém isso não reduz a qualidade do trabalho, que faz uma crítica muito interessante de um aspecto da sociedade japonesa que costumamos venerar por aqui.

O protagonista Ryota Nonomiya (Masaharu Fukuyama) tem a família que forma o estereótipo mais comum que fazemos do Japão. Um profissional bem sucedido, viciado em trabalho e que cria o filho de seis anos com rigor, para que este siga seus passos. Tudo ia bem até que a família descobre que o bebê foi trocado na maternidade.

Este é o tipo de problema para o qual não há uma solução fácil, para deixar tudo ainda mais complicado, com sempre acontece quando este problema ganha as telas, a outra família tem comportamento bem diferente, consequentemente o filho biológico já passou seis anos sendo criado de uma forma bem distinta da que Ryota esperava.

Alguns pontos podem ser ressaltados, pois ficam nas entrelinhas da crítica principal do filme. Geralmente olhamos para um recém-nascido como um ser em formação, que vai aprender tudo com aqueles que estão a sua volta. Não que esteja errado, mas esquecemos que, principalmente para aqueles que nunca tiveram um filho, existe também um aprendizado por parte dos pais. Ryota age sempre de forma segura e rigorosa, sem parar para refletir se suas ações estão realmente corretas, fechando os olhos para alternativas ao seu modo de agir.

Complementando essa ideia, o protagonista simboliza de forma direta aqueles que idealizam o futuro dos filhos e trabalham para que desde a infância a criança corresponda à expectativa criada. Nesse cenário extremo parece não haver espaço para a individualidade, já que todos os passos do filho são seguidos de perto e com rigidez para que este siga os passos do pai, ou os passos que o pai escolheu.

Era de se esperar que Ryota desse grande valor à ideia de que o filho é seu herdeiro, portanto ambos têm um laço sanguíneo. Apesar de, conforme indicado, não haver uma solução fácil para este problema, o comportamento do protagonista acaba dificultando ainda mais a situação, tanto com a criança quanto com sua esposa e com a outra família envolvida no caso.

O outro pai é Yudai Saiki (Lily Franky), mais velho e muito menos formal que Ryota. O tratamento que dá aos filhos também é muito distinto, não somente pela condição econômica. A família Saiki tem menos dinheiro, mas Yudai é muito mais presente na vida dos filhos, quebrando qualquer formalidade para brincar com as crianças, sem hesitar para rolar no chão ou entrar em um brinquedo do parque.

O problema da troca não se torna menor ou mais fácil para Yudai, mas ele simboliza um comportamento antagonista, que costuma ficar fora de nosso estereótipo de comportamento dos japoneses, mas que existe e é valorizado no filme. Ao exaltarmos o rigor e a seriedade como padrão de comportamento a ser seguido pensamos no resultado final, esquecendo do lado ruim deste processo.

Podemos pensar que para um pianista é melhor começar os estudos ainda na infância, assim como a criança criada por Ryota, de modo que o maior potencial de aprendizagem será utilizado ao máximo. O problema é quando este rigor atropela certas necessidades da infância que são igualmente importantes, tanto para a criança quanto para os pais, que pensando no futuro dos filhos chegam a perder o presente.

Chama a atenção no filme como as mães têm um papel secundário na história. A impressão que temos é que os filhos são só dos pais e eles tomarão as decisões que acharem melhor, independente de qual seja a opinião das esposas. Talvez esse fosse o comportamento esperado em relação ao que é construído para o personagem Ryota, mas o mesmo é notado em relação à família de Yudai. Dá a entender que este é o padrão da sociedade japonesa, que sem dúvida não é um modelo a ser seguido.

Mesmo que a intenção do diretor não tenha sido fazer um filme voltado ao público ocidental, o que ganha destaque é essa crítica a um modelo que estamos habituados a admirar e utilizar como exemplo a ser seguido. É sempre bom ver que o sucesso pode esconder muitos percalços ao ser imposto com tanto rigor.


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