terça-feira, 16 de julho de 2013

A experiência (Das Experiment)

Apesar de ser um filme alemão, com direção de Oliver Hirschbiegel, a experiência do longa foi realizada nos EUA. O fato de o filme ter se baseado em acontecimentos reais e, pelo que pude encontrar da experiência real, ter sido fiel em boa parte do tempo, o torna ainda mais inquietante e perturbador.

Após um início impreciso e às vezes um pouco confuso, as peças começam a se encaixar e criamos afinidade com os personagens selecionados para a tal experiência. Os vinte selecionados não sabiam muito sobre o projeto, apenas que iam receber uma boa quantia em dinheiro, perderiam alguns direitos civis (o que gera o maior estranhamento por parecer estranho que alguém aceite isso, mesmo que por dinheiro) e que em nenhuma hipótese poderiam usar a violência, que acarretaria em expulsão.

Quando oito deles são escolhidos para serem os presos e os doze restantes os guardas de uma prisão fictícia, as instruções são para atuar com exatidão; o que não chega a acontecer no começo. O clima de amizade ainda imperava, mesmo que os presos fossem identificados por números, para que tudo ficasse mais impessoal, e os guardas tivessem autorização para agir com rigor (porém, sem violência).

Era de se esperar que sem o treinamento adequado, apenas com algumas instruções sobre manter a ordem, os guardas seriam os primeiros a incorporarem as características dos personagens em questão e utilizar a autoridade a eles atribuída.

Entre os presos, aproveitando o clima descontraído que havia no começo da experiência, as brincadeiras desencadearam uma pequena rebelião, que foi reprimida com rigidez pelos guardas. A partir disso o filme entra em uma tensão crescente, que prende a atenção ao mesmo tempo em que desperta sensações estranhas, sobretudo quando lembramos que muitas daquelas cenas de fato ocorreram.

Ciências humanas diferem das exatas por não abrirem espaço para experimentos em laboratório. Não dá para controlar as condições e repetir o teste para verificar os resultados já que há o comportamento humano, imprevisível. Apesar disso é possível verificar padrões de comportamento, como no caso em questão.

Das iniciais duas semanas previstas para a duração da pesquisa, após alguns dias tudo teve que ser interrompido. Sem entrar em detalhes sobre o enredo, é possível adiantar que o final foi a parte que mais sofreu alterações em relação ao experimento real, sem que isso promova grandes alterações de conteúdo, foi apenas uma transposição para a linguagem cinematográfica.

Rompendo os limites do filme e até mesmo da experiência que deu origem à obra, é possível pensarmos na relação de prisioneiros e guardas em uma prisão real, impossível de ser desfeita e com muito menos rigor em relação ao uso da força. Ainda que em um presídio os detentos tenham cometido crimes, portanto não estão em condição idêntica dos selecionados na experiência, a relação de poder continua questionável.

Mesmo que os agentes penitenciários tenham, na condição de representantes do estado, o monopólio legítimo da violência, os limites e até a necessidade desse direito é bastante restrito. No filme o uso de violência física é proibido, apesar disso há vista grossa para muitas atitudes dos guardas, e é notável que existem várias formas não física de ações violentas.

Imaginando que a experiência visava representar com a maior exatidão possível as condições reais de uma cadeia, é de se supor que entre os detentos houvesse motivos distintos para estarem presos. Delitos diferentes demandam penas diferentes e estas devem ser definidas por um juiz, sendo totalmente excluídos da punição os maus tratos, sobretudo quando é feito um nivelamento de todos os prisioneiros, com todos tratados da mesma forma agressiva, independente dos motivos que os levaram à prisão.

É comum quando se fala sobre o tratamento dispensado aos presos os questionamentos em relação ao merecimento, dado que se estão presos é porque algum delito foi cometido. O filme de Hirschbiegel evidencia o excesso por parte de guardas que perdem o controle e deixam o poder de uma farda dominar a própria personalidade, exteriorizando a revanche de sentimentos pessoais reprimidos.

A questão extrapola a forma como cada detento merece ser tratado, dado que, como já comentado, a pena para cada delito não deve ser pensada pelos agentes penitenciários, tão pouco deve ser acrescida de tortura. O fato é que o poder se manifesta em diferentes esferas, pois mesmo que os guardas sejam subordinados a uma série de superiores, diante de um detento ele é a autoridade e é fundamental que haja um treinamento extremamente eficiente para que essa autoridade não seja utilizada de uma forma que não pode ser chamada de animalesca, pois animais não torturam seus semelhantes.


*Não encontrei o trailer legendado, mas tem o filme dublado completo no Youtube.

Um comentário:

Eduardo disse...

ótimo filme, mostra que o fator de receber poder, muda caráter e excita violência,
e o ambiente proporciona uma cadeia de erros,a qual os experimentados perdem o controle de si.E os guardas do filme pensa como se fossem um jogo querem ganhar,mas no fim todos perdem sua própria identidade.e chega a causar duas mortes e vários feridos.

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