Silvio Tendler é o diretor que consegue destaque no cinema nacional mesmo com documentários, gênero que costuma chamar a atenção apenas de um público bastante específico. Desta vez sua obra é um recorte histórico da segunda metade do século XX, mostrando as utopias de uma geração sedenta de mudanças e as barbáries promovidas pelos detentores do poder.
O longa é formado pela colagem de montagens que levou 19 anos para ser concluída. Este tempo fora do comum é facilmente compreendido ao pensarmos no formato do filme, que é praticamente uma aula de história e como tal, pode começar de um ponto específico escolhido pelo narrador – aqui é o período pós Segunda Guerra, com algumas imagens do holocausto –, mas não é fácil colocar um ponto final.
A ideia inicial seria começar os relatos com depoimentos sobre a segunda guerra; passar pelo ano de 68, que para Tendler e tantos outros revolucionários teve vários eventos orgásticos; relatar acontecimentos na Europa, América, África e Ásia; até a queda do muro de Berlin, que inicialmente marcou o fim do século. Porém houve o ataque às torres gêmeas, que prorrogou o marco do fim do século fazendo com que até Hobsbawn cometesse o equívoco de falar em “breve século 20” após o fim da União Soviética.
Ao prolongar o filme ao “novo fim do século” Tendler pode abordar o resultado da primeira eleição presidencial no Brasil após a ditadura militar, que para a geração do diretor, em contraponto ao ano orgástico de 68, foi uma das maiores brochadas da história. Após o atentado de 11/9 veio a eleição de um operário para a presidência do Brasil, de um índio para a Bolívia, de um negro para os EUA, a maior crise econômica desde 1929, ou seja, o encadeamento de fatos históricos tornaria este trabalho interminável, e só chegou ao fim com a eleição de Barack Obama por definição do diretor.
Outro ponto sempre difícil, mas talvez agravado neste tipo de documentário, é a edição final. Após juntar muito material, entrevistas com mais de 60 pessoas entre cineastas, historiadores, filósofos, vítimas de barbáries, etc. foi necessário colocar tudo em 120 minutos. Evidentemente que muitas partes tiveram que ser cortadas ou resumidas, mas isso não chega a comprometer a versão final.
Além de apresentar a história através de entrevistas com importantes atores políticos e imagens históricas – algumas bastante cruas e difíceis de assistir, porém o que sentimos ao ver é apenas um vislumbre dos sentimentos de quem viveu as situações – o filme nos instiga a pensar nos dias atuais e até mesmo no futuro, pois a montagem de Tendler é permeada por discursos e atitudes similares, quando não cíclica. Ao vermos no início do filme a tentativa norte-americana de justificar as bombas atômicas como necessárias para fazer com que as pessoas parassem de sofrer, temos a impressão de que há uma cartilha pronta de como justificar atos de terrorismo, já que Obama quando (pasmem) recebeu o prêmio Nobel da paz, afirmou em seu discurso que algumas vezes (acreditem) a guerra é necessária para chegar à paz.
Para o Brasil o filme passa a imagem de melhora em relação aos tempos de ditadura, indiscutível e consensual, principalmente para a geração do diretor. Só não podemos esquecer, entre tantas coisas que o filme nos lembra, de que a democracia não se resume às eleições periódicas e de que democracia institucional é muito pouco se comparado a necessidade urgente de democracia social pela qual nosso país grita – principalmente a classe formada pelos milhões de brasileiros abaixo da linha da miséria, sem citar números devido à imprecisão e a vergonha que isso acarretaria.
Silvio Tendler nos traz um filme importante para aprendermos e lembrarmos muitos acontecimentos não tão distantes. É triste saber que é um documentário, não uma obra de ficção, para podermos olhar para cenas deploráveis que os detentores do poder proporcionaram e recorrermos à famosa frase “só em cinema mesmo”. Mas já que todos os fatos são reais, o melhor é não esquecer os crimes, menos ainda das impunidades. (até o momento da publicação deste artigo temos 46 anos e 9 dias desde o início da ditadura militar no Brasil, sem um único militar punido)
O longa é formado pela colagem de montagens que levou 19 anos para ser concluída. Este tempo fora do comum é facilmente compreendido ao pensarmos no formato do filme, que é praticamente uma aula de história e como tal, pode começar de um ponto específico escolhido pelo narrador – aqui é o período pós Segunda Guerra, com algumas imagens do holocausto –, mas não é fácil colocar um ponto final.
A ideia inicial seria começar os relatos com depoimentos sobre a segunda guerra; passar pelo ano de 68, que para Tendler e tantos outros revolucionários teve vários eventos orgásticos; relatar acontecimentos na Europa, América, África e Ásia; até a queda do muro de Berlin, que inicialmente marcou o fim do século. Porém houve o ataque às torres gêmeas, que prorrogou o marco do fim do século fazendo com que até Hobsbawn cometesse o equívoco de falar em “breve século 20” após o fim da União Soviética.
Ao prolongar o filme ao “novo fim do século” Tendler pode abordar o resultado da primeira eleição presidencial no Brasil após a ditadura militar, que para a geração do diretor, em contraponto ao ano orgástico de 68, foi uma das maiores brochadas da história. Após o atentado de 11/9 veio a eleição de um operário para a presidência do Brasil, de um índio para a Bolívia, de um negro para os EUA, a maior crise econômica desde 1929, ou seja, o encadeamento de fatos históricos tornaria este trabalho interminável, e só chegou ao fim com a eleição de Barack Obama por definição do diretor.
Outro ponto sempre difícil, mas talvez agravado neste tipo de documentário, é a edição final. Após juntar muito material, entrevistas com mais de 60 pessoas entre cineastas, historiadores, filósofos, vítimas de barbáries, etc. foi necessário colocar tudo em 120 minutos. Evidentemente que muitas partes tiveram que ser cortadas ou resumidas, mas isso não chega a comprometer a versão final.
Além de apresentar a história através de entrevistas com importantes atores políticos e imagens históricas – algumas bastante cruas e difíceis de assistir, porém o que sentimos ao ver é apenas um vislumbre dos sentimentos de quem viveu as situações – o filme nos instiga a pensar nos dias atuais e até mesmo no futuro, pois a montagem de Tendler é permeada por discursos e atitudes similares, quando não cíclica. Ao vermos no início do filme a tentativa norte-americana de justificar as bombas atômicas como necessárias para fazer com que as pessoas parassem de sofrer, temos a impressão de que há uma cartilha pronta de como justificar atos de terrorismo, já que Obama quando (pasmem) recebeu o prêmio Nobel da paz, afirmou em seu discurso que algumas vezes (acreditem) a guerra é necessária para chegar à paz.
Para o Brasil o filme passa a imagem de melhora em relação aos tempos de ditadura, indiscutível e consensual, principalmente para a geração do diretor. Só não podemos esquecer, entre tantas coisas que o filme nos lembra, de que a democracia não se resume às eleições periódicas e de que democracia institucional é muito pouco se comparado a necessidade urgente de democracia social pela qual nosso país grita – principalmente a classe formada pelos milhões de brasileiros abaixo da linha da miséria, sem citar números devido à imprecisão e a vergonha que isso acarretaria.
Silvio Tendler nos traz um filme importante para aprendermos e lembrarmos muitos acontecimentos não tão distantes. É triste saber que é um documentário, não uma obra de ficção, para podermos olhar para cenas deploráveis que os detentores do poder proporcionaram e recorrermos à famosa frase “só em cinema mesmo”. Mas já que todos os fatos são reais, o melhor é não esquecer os crimes, menos ainda das impunidades. (até o momento da publicação deste artigo temos 46 anos e 9 dias desde o início da ditadura militar no Brasil, sem um único militar punido)
Um comentário:
Realmente o filme chama a atenção para todos nós observarmos nosso momento historico. Vale sempre lembrar q é preciso olharmos sempre os ultimos cem anos anteriores, para que não voltemos a repetir os mesmos erros nos proximos cem anos seguintes.
Abraços, assistam e aproveitem o filme
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