terça-feira, 10 de novembro de 2015

Sala do Suicídio (Sala Samobójców)

No início do filme o adolescente Dominik (Jakub Gierszal) vive uma vida bastante confortável. Filho único em uma família rica, repleta de capital social e cultural, parecia ter um destino de sucesso traçado, desde que não saísse dos trilhos impostos pelos papéis sociais.

A guinada de sua vida começa na escola, quando começa a sentir atração por um amigo. O que era para ser uma brincadeira de adolescentes acaba ganhando outra dimensão e com a ajuda das redes sociais Dominik começa a sofrer de maneira intensa com o bullying.

É a partir deste ponto que o diretor Jan Komasa começa a diferenciar sua obra de tantas outras que abordam tema semelhante. Da mesma forma que na vida real inúmeros adolescentes sofrem bullying e reagem de diversas formas, Dominik é um exemplo de quem tem uma intolerância extrema aos insultos.

Não é possível julgarmos a reação das vítimas como certa ou errada. O erro está sempre naqueles que agridem; no caso do bullying essa agressão pode ser física, verbal ou virtual, como é o caso do filme. O extremo terror expresso pelo protagonista é compreensível ao pensarmos na sua relação com os pais.

Em nenhum momento Dominik tem uma educação efetiva por parte dos pais, que parecem confiar tão cegamente no caminho natural da vida do filho, que para eles significaria terminar os estudos, casar com uma bela moça e arrumar um excelente emprego, que sequer consideravam outra hipótese para o futuro dele.

O jovem que materialmente sempre teve tudo se mostra extremamente despreparado quando enfrenta uma situação de confronto. Sua reação diante do stress repentino é a fuga da realidade. A saída aparentemente perfeita vem com amigos virtuais que conhece na internet, que o apresentam à ‘Sala do suicídio’; um simulacro da realidade, onde cada um cria seu avatar e assume as características sonhadas – não necessariamente factíveis no mundo real.

Esse ambiente virtual tem ganhado muitos adeptos. O que a princípio parece apenas uma brincadeira ou um jogo acaba ganhando destaque a partir do momento em que mais ações podem ser representadas, fazendo com que as interações virtuais se aproximem bastante da expectativa dos participantes. Em pouco tempo algumas pessoas – como Dominik e os demais participantes da sala – passam a considerar aquele mundo virtual como suas vidas, não apenas como representações de avatares.

Podemos pensar em inúmeros problemas decorrentes dessa aparente substituição. O que fica mais evidente no filme é a fragilidade das relações que se estabelecem no ambiente virtual. Em comum todos querem a fuga de seus problemas, mas na ânsia de protagonizar a própria vida todos se esquecem de acolher quem está próximo.

Quando finalmente se dão conta de que algo está errado em casa, os pais de Dominik não veem um problema com o filho, mas um problema com os planos milimetricamente calculados por eles para a perpetuação de um futuro perfeito. O que os personagens do filme não percebem é que os planos só são perfeitos em um universo onírico. Mesmo no plano virtual nossos ideais esbarram em uma série de imprevistos, sobretudo quando nossas intenções se cruzam com as de outras pessoas. O inferno, já disse Sartre, são os outros.

Os pais do jovem, evidentemente acostumados a de uma forma ou de outra terem tudo o que querem, acreditam que mais uma vez estão diante de algo que podem comprar ou simplesmente conseguir com uma ordem. A ideia imediata, sobretudo partindo de quem não faz ideia de como funciona o mundo virtual, tão pouco tem noção de como se sente alguém que interage nesse mundo, é a mais simples, ou seja, afastar Dominik de seus novos amigos.

Para o jovem a ‘sala do suicídio’ não era apenas uma brincadeira ou um passatempo, era toda sua vida, seus amigos, um lugar onde podia se expressar e ao menos aparentemente ser compreendido.

É muito raso olhar para um simulacro do mundo real e considera-lo um ambiente menor. Como vemos no filme, aqueles que recorrem à sala buscam fugir de uma realidade cruel e desagradável. Entretanto é possível que o mundo virtual não seja tão diferente do que vivemos ao por os pés na rua. Assim como as decepções de cada um dos integrantes da sala são compostas por atitudes vidas de outras pessoas, lá dentro a única diferença é a imaterialidade, as pessoas, assim como suas atitudes e seus conflitos de interesse, permanecem os mesmos.


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