terça-feira, 14 de setembro de 2010

Como água para chocolate

Laura Esquivel lançou seu romance em 1989 e a própria escritora adaptou a obra para o roteiro do longa dirigido por Alfonso Arau. Desta forma o filme fica mais fiel ao livro, o que neste caso é bastante importante devido ao contexto da obra.

Entre os consagrados escritores latino-americanos vemos o reflexo do machismo histórico que faz predominar o destaque dos homens. Esquivel destaca-se como uma das poucas mulheres escritoras e o próprio romance em questão lança um olhar feminino com predominância de mulheres como personagens, que através do realismo fantástico da obra mostram diversos papéis das mulheres ao longo do enredo.

Da narradora à protagonista acompanhamos quatro gerações da família de Tita (Lumi Cavazos), e se por um lado o eixo da obra é a cozinha – local tradicionalmente relegado às mulheres e onde a personagem demonstra todo seu talento formado desde a infância, que culmina em receitas por vezes com efeitos mágicos – por outro as personagens mantêm distância da dominação masculina. A submissão gira em torno da matriarca, mamãe Elena (Regina Torné), que preza pela manutenção das tradições e da aparência de uma família sem problemas.

No livro é dada maior importância para a Revolução Mexicana, ocorrida no início do século XX, pois no filme apenas algumas cenas fazem menção ao período. O enredo conta com a personagem Gertrudis (Claudette Maillé), uma das filhas de Elena que, com a contribuição involuntária de uma das receitas de Tita, abandona o rancho da família e chega a ser general da guerrilha. De fato as mulheres tiveram destaque pelo envolvimento na causa zapatista e muitas famílias contribuíam com o exército revolucionário de forma voluntária. Como não poderia deixar de ser, dadas as características da personagem, mamãe Elena oferece resistência à revolução, que sob a ótica da matriarca foi reduzida e exposta como algo perigoso – para o tradicionalismo reacionário, de fato foi.

Para Tita o que importava mais que qualquer revolução, era seu amor por Pedro (Marco Leonardi) que desde sua adolescência foi proibido pela tradição de que a filha mais nova de uma família deverá cuidar exclusivamente de sua mãe. A partir da proibição a menina, que aprendeu a cozinhar desde criança com a criada Nacha (Ada Carrasco), teve toda a vida marcada por encontros e desencontros, não apenas com Pedro, mas com os sentimentos que o amor propicia. No livro, ao longo da história de amor, a autora flerta o tempo todo com o senso comum, mas o final sempre inusitado dos acontecimentos surpreende positivamente, refinando a obra.

A transição para a linguagem cinematográfica resultou em um bom trabalho, reorganizando alguns episódios do romance e apresentando em ordem mais simplificada. O diretor explorou ainda os recursos visuais para dar mais valor às sensações provocadas pelas receitas preparadas, e a trilha sonora para expor alguns sentimentos que no livro são bem detalhados. Infelizmente em algumas cenas esses mesmos recursos beiram o dramalhão mexicano que marcam algumas produções televisivas do país, mas não chegam a comprometer o conjunto final.

Mais que uma história de amor conflituosa tanto o livro quanto o filme nos fornecem elementos sobre a história do México, tradições familiares e muitos traços culturais, principalmente pelas receitas que dão água na boca. Além de encantar instiga qualquer um a provar as tortas de natal, as codornas em pétalas de rosa, os chilis nogados, etc.

 

Um comentário:

Sueli Dutra disse...

Oi Alexandre!
Curti o texto. Realmente os livros e filmes levam a gente a conhecer um tantão de coisas: cultura, história, tradições, conhecer os pontos de vista. Ler é preciso! Assistir é preciso! rs...
Abraços,
Sueli.

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