Não confundir com o homônimo francês de Christian Carion. Este é o primeiro longa dirigido pelo consagrado ator Selton Mello, que também escreveu o roteiro com Marcelo Vindicatto. A história mergulha na família do protagonista Caio (Leonardo Medeiros), proprietário de um ferro-velho – fato curioso após a revelação de um fato de seu passado –, ovelha negra da família de classe média sustentada pelo seu irmão, o bancário Theo (Paulo Guarnieri). Evidentemente a direção pode ser criticada em alguns aspectos, mas não há nenhuma grande falha, ou seja, tudo dentro do esperado para uma experiência inicial.
A metáfora do Natal ilustra a trama de “essência x aparência” explorada ao longo do filme. Assim como a data tem seu significado ofuscado pelo consumo e os apelos para aquecimento da economia, a família – cujo sobrenome não é revelado – tem duas faces distintas. Caio chega à bela casa de Theo na véspera do Natal e encontra uma bela decoração, a festa reúne amigos e parentes empolgados com a troca de presentes e as maçantes músicas natalinas, por outro lado as relações familiares são tensas. Sua cunhada Fabiana (Graziella Moretto) o trata com frieza; Theo pede para que o irmão não apronte nada; o pai, Miguel, (Lúcio Mauro) demonstra raiva ao ver o filho e ignora as tentativas de contato; sendo que sua mãe, Mércia (Darlene Glória), é a única a receber bem o filho e demonstrar efusivamente a saudade que sentia. Não por acaso a matriarca da família tenta fazer alusão à verdadeira comemoração natalina, mas é ofuscada pela nora e termina falando sozinha.
Além das frias relações pessoais, cada personagem da casa demonstra pontos moralmente questionáveis. Os patriarcas, separados, vivem brigando e sustentados por Theo – Miguel para comprar Viagra e corresponder a namorada bem mais nova; Mércia para sustentar o vício em bebida e barbitúricos. O próprio Miguel apenas traz dinheiro para casa e acata ordens de todos. Fabiana tenta administrar a casa, os conflitos e os problemas, entretanto, assim como seu marido, não é capaz de dar atenção aos dois filhos pequenos, que recorrem à internet quando querem aprender o significado de alguma palavra.
Fugindo deste ambiente Caio reencontra velhos amigos. Em um estereótipo de casa habitada só por homens (bagunçada, suja, com comida estragando e muita cerveja) Caio encontra a verdadeira amizade e demonstrações calorosas de afeto, ausentes na família. Seus amigos Neto e Thales (Thelmo Fernandes e Cláudio Mendes) representam um laço com seu passado. Caio é um personagem obscuro, misterioso e intimista – bem mais que o próprio filme – e aos poucos, de forma bastante satisfatória, o longa oferece dicas indiretas sobre seu passado, como peças de um quebra-cabeça que devemos montar ao assistir. A história do protagonista vai ficando mais clara com o desenrolar do filme, e desvendamos inclusive a cena tensa em que ele revela quem está sepultada no túmulo que procura no cemitério da cidade.
A obra termina como certo maniqueísmo às avessas. A ovelha negra com o bônus de lentamente superar traumas e problemas do passado, estruturando nova vida mesmo sem o apoio da família. E o ônus fica com o orgulho da família, o bancário que vê seu império desmoronando por uma série de problemas.
Apesar das críticas que sofreu, talvez por ser um filme bem diferente dos que Selton Mello costuma atuar, é um ótimo trabalho da nova geração de diretores brasileiros. Vamos aguardar “O Palhaço” que Mello lançará em breve.
A metáfora do Natal ilustra a trama de “essência x aparência” explorada ao longo do filme. Assim como a data tem seu significado ofuscado pelo consumo e os apelos para aquecimento da economia, a família – cujo sobrenome não é revelado – tem duas faces distintas. Caio chega à bela casa de Theo na véspera do Natal e encontra uma bela decoração, a festa reúne amigos e parentes empolgados com a troca de presentes e as maçantes músicas natalinas, por outro lado as relações familiares são tensas. Sua cunhada Fabiana (Graziella Moretto) o trata com frieza; Theo pede para que o irmão não apronte nada; o pai, Miguel, (Lúcio Mauro) demonstra raiva ao ver o filho e ignora as tentativas de contato; sendo que sua mãe, Mércia (Darlene Glória), é a única a receber bem o filho e demonstrar efusivamente a saudade que sentia. Não por acaso a matriarca da família tenta fazer alusão à verdadeira comemoração natalina, mas é ofuscada pela nora e termina falando sozinha.
Além das frias relações pessoais, cada personagem da casa demonstra pontos moralmente questionáveis. Os patriarcas, separados, vivem brigando e sustentados por Theo – Miguel para comprar Viagra e corresponder a namorada bem mais nova; Mércia para sustentar o vício em bebida e barbitúricos. O próprio Miguel apenas traz dinheiro para casa e acata ordens de todos. Fabiana tenta administrar a casa, os conflitos e os problemas, entretanto, assim como seu marido, não é capaz de dar atenção aos dois filhos pequenos, que recorrem à internet quando querem aprender o significado de alguma palavra.
Fugindo deste ambiente Caio reencontra velhos amigos. Em um estereótipo de casa habitada só por homens (bagunçada, suja, com comida estragando e muita cerveja) Caio encontra a verdadeira amizade e demonstrações calorosas de afeto, ausentes na família. Seus amigos Neto e Thales (Thelmo Fernandes e Cláudio Mendes) representam um laço com seu passado. Caio é um personagem obscuro, misterioso e intimista – bem mais que o próprio filme – e aos poucos, de forma bastante satisfatória, o longa oferece dicas indiretas sobre seu passado, como peças de um quebra-cabeça que devemos montar ao assistir. A história do protagonista vai ficando mais clara com o desenrolar do filme, e desvendamos inclusive a cena tensa em que ele revela quem está sepultada no túmulo que procura no cemitério da cidade.
A obra termina como certo maniqueísmo às avessas. A ovelha negra com o bônus de lentamente superar traumas e problemas do passado, estruturando nova vida mesmo sem o apoio da família. E o ônus fica com o orgulho da família, o bancário que vê seu império desmoronando por uma série de problemas.
Apesar das críticas que sofreu, talvez por ser um filme bem diferente dos que Selton Mello costuma atuar, é um ótimo trabalho da nova geração de diretores brasileiros. Vamos aguardar “O Palhaço” que Mello lançará em breve.
7 comentários:
É a especialidade de Leonardo Medeiros interpretar o homem deprimido. Adoro os trabalhos de Selton Mello e da Graziela Moretto! E sou apaixonaaada pelo Medeiros rs... vou assistir!
Opa, obrigado pela visita =)
É interessante quando um ator consegue se destacar mesmo quando o personagem é introspectivo e meio calado como o Caio!
Caso tenha dificuldade de encontrar o filme, dá para baixar no Cinema Cultura, tem o link aí do lado!
Baixei e assisti o filme do Selton Mello, realmente é um tanto curioso, não se trata de um filme global. O roteiro é interessante, principalmente nas falas dos amigos do Caio, talvez o momento mais interessante é quando ele faz a visita no cemiterio e conversa com o Emiliano Jose.
Desculpe-me a ignorância, mas por que o pai não gosta dele de jeito nenhum? Me parece que nesse "quebra-cabeças" ficou faltando alguma peça! Ah, e por que o irmão acatou a ordem do pai e parou de dar dinheiro?
Cristiana, obrigado pela visita e pelo comentário.
Todas as atitudes hostis da família giram em torno de um grande erro cometido por Caio no passado (não posso entrar em detalhes para não estragar a surpresa de quem ainda não assistiu).
O grande ponto para mim é evidenciar que o erro de Caio é imperdoável para grande parte da família, mesmo ele tendo mudado de atitude e aprendido com o passado, ao passo que as hipocrisia de seus familiares parece eterna e imutável.
Nossa, achei o filme muito deprimente! A cena do garotinho tomando os remedios da avò foi de matar, talvez porque estamos sempre à espera de "redençao", essa, simbolizada na vivacidade pueril do excelente Fabricio Reis. Incognita, ali e no retorno de Caio ao "interior"! Bem por isso gostei demais do filme.
Alexandre Caetano, valeu pelo blog, para mim foi um grande achado!
Anderson.
Anderson, eu que agradeço! Retornos como esse são ótimos, agora o foco é manter o trabalho e divulgar o máximo possível.
O filme é bem tenso, talvez pela presença de tantos elementos do cotidiano, não tem nada que olhamos e pensamos "só em cinema mesmo".
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