Sobra talento individual neste longa dirigido por Clint Eastwood, a começar do próprio. Em adaptação do livro homônimo, Eastwood faz um filme policial em Hollywood, entretanto descontroi diversos estereótipos e na maior parte do longa fica distante da abordagem convencional de diretores norte-americanos. Não se trata de um bang bang moderno com tiroteios pelas ruas movimentadas, nem do maniqueísmo que separa mocinhos e bandidos tentando eliminar qualquer ponto em comum entre ambos. Vemos uma mistura de meninos e lobos – um bom título em português – representada pelos protagonistas, que podem estar ora de um lado, ora de outro da linha extremamente tênue, se não inexistente, entre o certo e o errado.
Os referidos protagonistas são nada menos que Jimmy (Sean Penn), Dave (Tim Robbins) e Sean (Kevin Bacon), três amigos na infância que o tempo, com influência do sequestro de Dave, reduziu a vizinhos distantes. Até neste ponto o roteiro mistura bem e mal, pois uma tragédia, alfinetando a pedofilia na igreja católica, separa os amigos que só voltam a ter contato e a revisitar as memórias após outro fato trágico, desta vez com a família de Jimmy.
O título original, Mystic River, remete ao rio que corta a cidade de Boston, mas também forma uma interessante metáfora para a história cercada de mistérios e personagens mergulhados em si, cada um com suas mágoas de forma a beirar o ocultismo. As vidas carregadas por um passado bastante traumático desencadeiam fatos que culminam em um quebra-cabeças para o agora policial Sean e seu parceiro Whitey (o coadjuvante (!) Laurence Fishburne). Mesmo sendo guiado pelo mistério de um crime não solucionado, não é este o ponto forte do filme, pelo contrário, pois a dúvida não chega a prender tanto a atenção e as hipóteses que tentam montar vários suspeitos são facilmente desconstruídas.
Chama a atenção a densidade dos personagens e a fragilidade da história construída por nuances que só funcionam se estiverem cuidadosamente estruturadas de forma impecável. Esse encadeamento dos fatos culminando em um ponto específico é citado no próprio filme quando Jimmy diz que a mãe de Hitler cogitava um aborto, o que poderia ter mudado a história da humanidade. E com quantas pequenas tragédias cotidianas não nos deparamos durante a vida? Fatos inexplicáveis nos quais há tantos detalhes, individualmente irrelevantes, mas indispensáveis ao todo, que, talvez por comodidade, culpamos o destino.
Por fim, adeptos da justiça com as próprias mãos e defensores da pena de morte, sobretudo diante da confissão do criminoso, talvez tenham que reestruturar seus argumentos depois do que o enredo nos apresenta. Será válido analisar um fato sem levar em conta sua história, para que uma decisão tão drástica e definitiva seja tomada? Com que legitimidade nos colocamos do lado dos meninos, se a qualquer momento um destes – talvez nós mesmos, dependendo do ponto de vista – age como um lobo? O trabalho de Eastwood mostra uma lógica segundo a qual cada detalhe é tão relevante e tão frágil que a qualquer momento uma tragédia pode encobrir a outra.
Os referidos protagonistas são nada menos que Jimmy (Sean Penn), Dave (Tim Robbins) e Sean (Kevin Bacon), três amigos na infância que o tempo, com influência do sequestro de Dave, reduziu a vizinhos distantes. Até neste ponto o roteiro mistura bem e mal, pois uma tragédia, alfinetando a pedofilia na igreja católica, separa os amigos que só voltam a ter contato e a revisitar as memórias após outro fato trágico, desta vez com a família de Jimmy.
O título original, Mystic River, remete ao rio que corta a cidade de Boston, mas também forma uma interessante metáfora para a história cercada de mistérios e personagens mergulhados em si, cada um com suas mágoas de forma a beirar o ocultismo. As vidas carregadas por um passado bastante traumático desencadeiam fatos que culminam em um quebra-cabeças para o agora policial Sean e seu parceiro Whitey (o coadjuvante (!) Laurence Fishburne). Mesmo sendo guiado pelo mistério de um crime não solucionado, não é este o ponto forte do filme, pelo contrário, pois a dúvida não chega a prender tanto a atenção e as hipóteses que tentam montar vários suspeitos são facilmente desconstruídas.
Chama a atenção a densidade dos personagens e a fragilidade da história construída por nuances que só funcionam se estiverem cuidadosamente estruturadas de forma impecável. Esse encadeamento dos fatos culminando em um ponto específico é citado no próprio filme quando Jimmy diz que a mãe de Hitler cogitava um aborto, o que poderia ter mudado a história da humanidade. E com quantas pequenas tragédias cotidianas não nos deparamos durante a vida? Fatos inexplicáveis nos quais há tantos detalhes, individualmente irrelevantes, mas indispensáveis ao todo, que, talvez por comodidade, culpamos o destino.
Por fim, adeptos da justiça com as próprias mãos e defensores da pena de morte, sobretudo diante da confissão do criminoso, talvez tenham que reestruturar seus argumentos depois do que o enredo nos apresenta. Será válido analisar um fato sem levar em conta sua história, para que uma decisão tão drástica e definitiva seja tomada? Com que legitimidade nos colocamos do lado dos meninos, se a qualquer momento um destes – talvez nós mesmos, dependendo do ponto de vista – age como um lobo? O trabalho de Eastwood mostra uma lógica segundo a qual cada detalhe é tão relevante e tão frágil que a qualquer momento uma tragédia pode encobrir a outra.
2 comentários:
Aleeeeeee,
Amo esse filme!!! Ai, ainda não li todo o seu blog (vc vai entender qdo ler meu e-mail)mas...já assistiu "Monster"? bom, preciso ler seus textos antes de recomendar filmes...
Beijos
saudades
vou seguir vc no seu tw, tá?
Fer
Vii esse filme na noite passada!
Minha indignação é enorme!
So espero que mais pessoas possam ver esse filme, e que possam encarar a realidade do que acontece na nossa sociedade capitalista e depravada.!!!
Onde nao leis, e aqueles que comentem o mal a infligem sempre saem por cima ..
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