terça-feira, 16 de outubro de 2012

Bróder


O longa de estreia do diretor Jeferson De foi rodado no Capão Redondo, bairro da periferia de São Paulo que normalmente é conhecido pelos altos índices de criminalidade. Poderia ser pela falta de salas de cinema, baixo investimento ou precariedade das escolas. O fato é que a opção do diretor foi exibir, a partir de três personagens que cresceram juntos no bairro, algumas possibilidades que os moradores têm para seguir.

Diferente de alguns bairros, nos quais jovens aspiram às carreiras de medicina, direito, engenharia, entre outras, as opções dos jovens nascidos e criados na periferia parecem bem mais restritas. O primeiro apresentado é Macu (Caio Blat), que logo de cara desconstrói o estereótipo de criminoso.

Macu faz o gênero de bom moço, cumprimenta a todos e mostra ser querido na comunidade onde vive. Ninguém desconfiaria que ele estivesse prestes a participar de seu primeiro sequestro, alegando ser o único, apenas para pagar uma dívida. O que parecer ser a imagem do fracasso – sucumbir ao crime para solucionar um problema – tem como contraponto o personagem Jaiminho (Jonathan Haagensen), que se tornou jogador profissional.

Ao chegar ao bairro em um grande carro importado e coberto de joias Jaiminho é a imagem do sucesso, ao menos do êxito econômico, jogando futebol na Espanha e almejando uma vaga na seleção brasileira. Enquanto Macu obedece às ordens de seu superior, que o induz ao sequestro, Jaiminho obedece ao empresário, que cuida de cada detalhe de sua carreira.

Entre os dois extremos vemos Pibe (Silvio Guindane). O terceiro amigo não ficou rico jogando bola, também não se rendeu ao crime, mas teve um filho e vive imerso na responsabilidade de sustentar a família com um salário irrisório. Apesar de terem seguidos caminhos distintos, é possível ver que os jovens mantém uma união muito forte, que nem mesmo brigas e divergências são capazes de quebrar.

A dúvida que fica após o filme é se a exploração do trabalho de Jaiminho por parte de seu empresário é muito diferente da exploração do trabalho de Macu, que tem suas opiniões ignoradas diante das ordens para a execução do sequestro. Ainda que não tenhamos detalhes do trabalho de Pibe, não restam dúvidas de que sua força de trabalho é vendida a preço baixo e também explorada.

É evidente que não podemos colocar os três no mesmo plano, afinal Jaiminho ganha muito dinheiro de forma lícita, enquanto Macu coloca a vida de outras pessoas em risco, porém o que fica latente é a incapacidade de prover o próprio destino, relegando a outras pessoas o que a emancipação lhes poderia garantir.

O que o filme mostra, talvez de forma exageradamente tímida, é que independente do caminho que os indivíduos acabem seguindo, a formação acaba sendo fundamental. Com a educação pífia que costuma ser oferecida aos jovens das periferias paulistanas, em escolas públicas cujo principal objetivo parece ser desviar verbas do estado, ao invés de formar cidadãos, os jovens não possuem autonomia sobre as próprias atividades, tendo que optar por um explorador, ao invés de uma profissão.

A marca mais forte dos personagens é o grande laço de amizade, não apenas entre os três protagonistas, mas entre todos que permeiam a trama e que cresceram dividindo as mesmas dificuldades e compartilhando os mesmos valores. A lealdade entre os próximos é um valor que o chefe da quadrilha de sequestradores não irá compreender, assim como a preferência pela feijoada a despeito do restaurante Le Jardin, indicado pelo empresário de Jaiminho.

Vemos no filme, nos moradores do Capão Redondo ou em qualquer outra esfera social valores bastante marcantes, formados desde a infância pelos elementos que cercam o indivíduo. Porém esses valores, independentes de quais sejam, são fortemente tentados pelas leis bárbaras do capital, reduzindo prazeres, amizades, lealdades ao dinheiro.

A forte união notável entre os moradores personagens do filme poderia ser canalizada para o desenvolvimento pleno dos indivíduos, conscientes dos conflitos sociais e cientes da capacidade de cada um de prover o próprio destino. Talvez não seja um objetivo tão fácil de ser conseguido, mas longe de ser impossível, é interessante a muitos setores da sociedade que esse tipo de consciência não exista. Não seria rentável (para quem já detém o capital).


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