No começo dos anos 80 o Metallica era um grupo formado por quatro moleques, dispostos a beber o máximo possível e exteriorizar seus sentimentos através da música. Misturando power chords com influência do punk e do heavy metal, os garotos foram os precursores do thrash, estilo do qual foram se afastando ao longo da carreira.
Desde o início da década de 90, com o lançamento do black album, o Metallica não é mais somente uma banda, mas uma marca. Uma espécie de grife, que não vende apenas música, mas qualquer coisa que leve seu logo.
Inovadores desde sua origem, a nova empreitada é o lançamento do filme em 3D, que leva às telas de cinema um show da banda, recheado com uma história de ficção, que fica em segundo plano e não chega a atrapalhar a apresentação das músicas.
Uma característica da banda é a grande energia que transmitem ao público nos shows. É claro que em estúdio as músicas têm qualidade, mas a execução parece muito mais contida. O único que conseguiu reduzir um pouco essa diferença foi o produtor Bob Rock, depois de muito trabalho no black album.
Como era de se esperar, toda essa energia em uma tela de cinema, com recurso 3D e toda a edição de imagens, resulta em um espetáculo bem atrativo para os fãs da banda, que têm o desafio de se conter na cadeira do cinema aos sons dos clássicos que consolidaram a banda como uma das mais influentes do rock.
O trabalho do diretor Nimrod Antal não deve ter sido fácil. Com o objetivo de filmar uma história paralela para não lançar somente um show em 3D, Antal corria o risco de interferir muito no show, que independente de qual seja a expectativa de quem for ao cinema, vira prioridade logo na primeira música.
A ficção mostra o roadie Trip (Dane DeHaan) maravilhado no backstage do show, como qualquer fã ficaria se estivesse nessa situação, porém no fim da primeira música recebe a ordem de buscar uma encomenda na cidade e voltar antes do final da apresentação.
A partir disso a história começa a se desenvolver de forma linear, depois foge completamente da realidade, ficando mais interessante e prendendo a atenção, mesmo em meio às apresentações fantásticas das músicas. Logo dá para perceber que a jornada de Trip está encadeada com as músicas do show, portando tudo vai ganhar mais sentido se você conhecer pelo menos o tema da letra da música.
Dentro da história, que é curta por ter elementos somente entre as músicas do show, há um grande mistério (sem entrar em detalhes aqui, para não estragar a surpresa de quem ainda não viu) que torna ainda mais importante saber sobre o que a música em questão está falando. Ainda que não exista uma resposta exata para o tal mistério, o filme dá uma sugestão.
Em relação ao Metallica, as expectativas são correspondidas. Ótimos músicos que são, contam com a edição de imagens e as tomadas captadas em mais de uma apresentação que, associadas ao efeito 3D, oferecem uma ótima perspectiva de visão, que em nenhum ponto da plateia é possível conseguir.
Filmado no Canadá, em shows realizados especificamente para fornecer material ao filme, só o palco já é uma atração à parte. Tecnologia de ponta, trazendo uma coletânea de marcas importantes ao longo da história da banda, como a estátua da justiça se despedaçando, as cruzes de Master of Puppets (com direito a uma bandeira do Brasil de relance na plateia) e o acidente encenado durante Enter Sandman.
O filme cumpre bem seu papel. Oferece mais que um show e explora bem os recursos cinematográficos. O curioso é que o retorno não tem sido tão bom quanto o esperado e sem dúvida isso pode inibir bandas que tenham gostado da ideia. Difícil dizer qual o fator determinante para o filme não ir tão bem nas bilheterias, talvez a postura contida de uma cadeira de cinema que nunca vai substituir um show de verdade.
De qualquer forma, produzir um filme 3D foi caro e trabalhoso. Mesmo com a qualidade final e com a inovação da banda, é bem provável que sua produção fique apenas registrada como curiosidade na história da música.
(diferente do trailer, no filme as letras das músicas não são legendadas!)
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