quinta-feira, 6 de maio de 2010

As melhores coisas do mundo

Laís Bodanzkiy mergulhou no universo dos adolescentes de classe média alta através do personagem Mano (Francisco Miguez), e com os estereótipos bem encaixados dos elementos que circundam o jovem a diretora consegue evidenciar fatos cotidianos que nos levam a contestar alguns paradigmas sobre esta conturbada fase da vida e sua relação com a fase seguinte, dos pais.

A ideia bastante consensual transmitida aos filhos é a de que eles estão vivendo em uma fase sem problemas ou preocupações, uma vez que não precisam se preocupar com o pagamento das contas ou o sustento da família. Entretanto esta visão simplista do que são as “verdadeiras” dificuldades remete ao fato de que os problemas que ocorrem conosco sempre parecem piores do que os das outras pessoas. Ao passar pelo filtro do tempo os pais parecem esquecer as angustias, as pressões e os sentimentos intensos desta fase naturalmente cheia de dúvidas, em que ainda não estamos plenamente inseridos nos processos sociais e acreditamos que tudo é definitivo e dramático.

A opinião unanime dos jovens é a de que os pais cometem erros bobos e quando tiverem filhos tudo será diferente, pois a relação será pautada na amizade. A doce ilusão chega ao fim quando os filhos nascem, crescem e, quando chegam à adolescência, estragam tudo, ou seja, todo o planejamento de uma relação amigável cai por terra devido à personalidade do jovem não ser condizente com a construída pelos pais quando eles eram adolescentes. Apesar de ser fácil concordar que é necessário respeitar a individualidade, as vontades e a personalidade do outro, na prática tudo fica diferente quando este “outro” é alguém com quem sonhamos há anos, com cada detalhe de comportamento, preferências, etc.

Não é apenas dessa forma subjetiva que a diferença entre o que achamos correto e o que achamos correto que aconteça conosco aparece no filme. Sem querer estragar surpresas, Bodanzky trabalha muito bem temas polêmicos que as pessoas costumam tolerar sem problemas, desde que só aconteça com os outros. A intolerância é mais curiosa entre os mais velhos, pois seria de se supor que a maior bagagem cultural e o acumulo de experiências vividas servissem para trabalhar os fatos de forma mais eficiente, sem a herança do romantismo que é tão presente nos jovens, e bem abordado no filme pelo personagem Pedro (Fiuk); mas na adolescência os desdobramentos de atitudes hostis podem não ter um final tão harmonioso quanto a fabulação permite nas telas.

A hostilidade no ambiente escolar é antiga – tanto que qualquer um que assiste ao filme reconhece algumas situações como familiares –, a diferença é que hoje o desenvolvimento da tecnologia, que facilita as pesquisas escolares e contribui para a formação dos estudantes, também pode ser utilizada para fazer com que pequenos fatos da vida particular dos alunos tornem-se públicos. Somando os insubstituíveis hábitos de troca de bilhetes e comunicações mais tradicionais com as mensagens de texto, blogs, etc., a escola continua sendo o ponto chave dos processos de socialização pelos quais todos passamos; o lugar onde acontecem as melhores coisas do mundo, mas ao mesmo tempo bastante coercitivo.


Para terminar, uma nota a parte: a magia dos Beatles parece mesmo eterna, como Laís Bodanzky nos mostra através de Something. Certa vez me disseram para nunca confiar em alguém que não gosta do quarteto de Liverpool, e tenho comprovado isso empiricamente =)



Um comentário:

Bruno disse...

Graaaaaaaaande filme!
O nacional do ano. E ainda estamos em Maio!

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