Com um tema comum a todos a diretora Malu Martino exibe sua versão cinematográfica para do livro homônimo, mostrando o período de transição entre dois ciclos da vida da protagonista Júlia (Ana Paula Arósio). Dão suporte à narrativa os amigos Hugo (Murilo Rosa) e Lisa (Natália Lage), ambos também em transição por desilusões amorosas, porém essas desilusões têm nuances relevantes. Júlia vive uma separação, Hugo ficou viúvo e Lisa se depara com uma gravidez indesejada, que abre espaço para uma leve pincelada na recente polêmica aberta pela campanha presidencial. Os desafetos são apenas citados, nunca mostrados. Não há rostos, já que estes poderiam ter qualquer forma, sem alterar a estrutura dos sentimentos envolvidos.
A república montada pelos três amigos foi uma ótima metáfora para retratar as personagens, principalmente Júlia. A casa tem uma linda arquitetura, porém está maltratada pelo tempo e precisa de reformas, já sua moradora não exibe a exuberância característica da atriz, ao contrário, tem a expressão de quem está cansada de sofrer e por mais que tente manter as aparências, não consegue iniciar a reforma que sua vida precisa.
Para além das aparências físicas, a república fica no Rio de Janeiro, só que distante do centro, em Pedra de Guaratiba – pequena, tranquila, até isolada –, com cenas entrecortadas com a universidade em que Júlia dá aulas de literatura inglesa, como um pólo oposto da casa a beira mar. Entre esses dois extremos a professora revela através de suas atitudes o orgulho ferido, que dispara contra todos na tentativa de se isolar e buscar a tão sonhada quanto inexistente tranquilidade. Por outro lado, nas horas mais difíceis prevalece, ainda que involuntariamente, a necessidade do conforto dos que estão próximos e que chega pela vida social intensa que uma metrópole pode proporcionar por sua diversidade.
É claro que os conflitos e incoerências da vida de Júlia podem ser encontrados na vida de qualquer pessoa. Traumas como o fim de um relacionamento, independente de como isso aconteça, só realçam determinados sentimentos que a vida moderna, bem ou mal, nos impõe. Ao mesmo tempo que temos o individualismo exacerbado como comportamento quase imposto pela sociedade moderna, convivemos ainda com valores tradicionalistas extremamente consolidados por séculos; nas cidades vemos ainda a infinidade de possibilidades que a vida urbana nos proporciona caminhar lado a lado com a solidão urbana das grandes metrópoles.
Passando pelos obstáculos cotidianos cabe a cada um aprender a lidar com estas incoerências de sentimentos conflituosos. No filme o roteiro flerta muitas vezes com o senso comum, porém cada personagem segue seu rumo da maneira que considera mais conveniente para encerrar um ciclo doloroso e dar continuidade às atividades cotidianas. A expectativa maior naturalmente volta-se para Júlia e suas possibilidades. Mulher madura e culta, pode encontrar a síntese entre o individualismo e o aconchego de outras pessoas de diversas formas, e independente de qual seja (deixando em aberto para não estragar o final) a atitude tomada inevitavelmente diz muito sobre o aprendizado que cada um extrai de suas experiências pessoais.
Voltando ao início, não há grandes referências sobre os amores passados, mas a pessoa por quem Júlia sofre chama-se Antônia. O fato da protagonista ser homossexual, assim como seu amigo Hugo, é tratado com a naturalidade necessária para deixar claro que independente de orientações sexuais, os sentimentos que permeiam os seres humanos são os mesmos. Em tempos em que a sexualidade do indivíduo é alvo de disputas entre políticos, religiosos, cientistas, etc., vemos sob o olhar bastante sensível de Malu Martino e através da atuação impecável dos atores que a sexualidade não é um diferencial na personalidade. Havendo respeito ao outro cada um solucionará as dificuldades que a vida naturalmente impõe da maneira que for mais conveniente, como entre os três amigos retratados.
Um comentário:
Oi!
Mudou o visual, hein?! Ficou legal!
Adiciona meu blog nos seus links?
Beijos,
E parabéns pela dedicação! ^^
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