O uso de substâncias que alteram nosso estado de consciência acompanha toda a história da humanidade. Dos mais leves chás aos mais potentes alucinógenos, o homem cria diversas situações para justificar tal consumo, como rituais religiosos, purificação, comemorações, etc., até chegar ao puro uso recreativo.
Com o advento da modernidade o uso de algumas substâncias se tornou um grande problema. Muitas delas têm efeito em curto prazo, como a ressaca, que faz com que a força de trabalho do dia seguinte seja comprometida após uma noite de poucos limites. Outras mostram resultados em longo prazo, deteriorando pouco a pouco a capacidade produtiva – física ou intelectual – e também comprometendo a produtividade.
Neste longa a diretora Carolina Jabor adapta o conto "Frontal com Fanta", de Jorge Furtado, para através dos protagonistas João (João Pedro Zappa) e Judite (Deborah Secco) inserir o consumo de substâncias ilícitas em um contexto social, abrangendo as incoerências do discurso antidrogas e possíveis consequências do consumo de determinadas substâncias.
João é internado em uma clínica psiquiátrica. O diagnóstico foi dado mais pelos pais do que pelos médicos. Judite é a moça por quem ele se apaixona, o problema é que aos 30 anos ela é portadora do HIV e seu corpo, já bem debilitado pelo abuso de substâncias tóxicas, não tolera os remédios. Não tem mais para onde correr.
Desses dois estereótipos, o de Judite é o que passa a mensagem mais simples e clara. Não se trata de levar uma vida presa à moral e aos costumes tradicionais, mas de saber dosar os excessos para que possamos desfrutar do que quisermos por mais tempo. O grande destaque do filme é conseguir passar essa mensagem se um moralismo exagerado.
Há momentos em que podemos identificar certo arrependimento da personagem, sobretudo quando ela se sente inibida de planejar um futuro incerto e provavelmente curto, mas a maior notoriedade está na postura crítica de Judite diante de sua própria condição e das escolhas que fez ao longo da vida.
João já forma um estereótipo mais complexo, sobretudo por todos que o cercam. Se por um lado crescem os distúrbios psicológicos, tanto em quantidade quando em diversidade, por outro há uma crescente capitalização desses distúrbios. A quantidade de dinheiro que se movimenta com o comércio de remédios para o tratamento de problemas psicológicos é imensa, mesmo com a eficácia extremamente duvidosa. As clínicas particulares, como a que João e Judite estão internados, são igualmente lucrativas e os psiquiatras envolvidos trabalham, amparados por essa estrutura lucrativa, com uma família desesperada de um lado e um paciente já encarado como louco de outro.
Através de algumas atitudes metafóricas somos instigados a pensar na diferença com que encaramos as pequenas loucuras diárias. João diz poder ficar invisível, bastando para isso misturar um medicamento com refrigerante, assim ninguém pode vê-lo. Na verdade os exemplos disso apenas escancaram certos absurdos cotidianos; mostram o quanto podemos ficar entretidos com bobagens ou acostumados com absurdos a ponto de não enxergarmos o que está ao redor, a menos que algo muito inusitado aconteça.
Anestesiados em nosso cotidiano insano, mas já naturalizado, passamos a agir com intolerância diante do que consideramos anormal. É frequente vermos um comportamento distinto do que esperamos sendo taxado de loucura, doença, anormalidade e uma série de outros adjetivos que apenas mascaram nossa frustração por um comportamento que não se adequa às regras.
Tudo bem que o filme mostra o contraponto de João através de Judite, que na ausência de limites parece ter chegado ao fim da linha bem antes do que gostaria, mas é com ela que o rapaz se identifica e é o sentimento que surge entre os dois que toma o espaço de sua ansiedade, antes preenchida por remédios.
Um passeio rápido pelo centro de uma grande cidade nos dá inúmeros motivos para sentir angústia, a divisão que o filme nos mostra se dá pela tolerância em relação a como as pessoas lidam com tamanho desconforto. Parece que acostumar-se é tolerado, ignorar os problemas ou se tornar insensível até mesmo diante de pessoas próximas também é considerado normal.
O ‘problema’ parecem ser aqueles que não conseguem se adequar aos absurdos. Portanto qualquer tentativa de reação, qualquer tentativa de fuga com substâncias ilegais que alteram a consciência são logo taxadas de loucura e demandam tratamento, rendendo lucro, rendendo uma falsa sensação de dever cumprido por parte dos responsáveis pela internação.
Uma passagem breve, porém sempre marcante, é a de Fernanda Montenegro como avó de Judite, que com a maior naturalidade enrola um baseado e fuma como se fosse um cigarro comum. Não teve tanta repercussão quanto o rápido beijo em Nathália Timberg na novela, mas atitudes controversas encenadas por uma atriz tão consagrada sempre ajudam a desconstruir preconceitos. É um passo pequeno, mas representativo.
4 comentários:
FILMES ONLINE GRATIS
http://filmesonlinesgratis.com.br/
Pessoal, tudo bem?
Estava com uma certa dificuldade em encontrar sites confiáveis que disponibilizam filmes e séries online com qualidade e de forma gratuita.
Acabei encontrando um site que indica as principais fontes de filmes online grátis:
http://filmesonlinesgratis.com.br/
Ele tende a ser um agregador de conteúdo de filmes e séries com qualidade, segurança e, claro, gratuito.
Vale a pena conferir, assim não se perde muito tempo procurando na internet.
Um abraço,
Será que o João é mesmo o mais complexo? Os dois são mostrados em momentos diferentes da vida. Ela no fim da linha, já consciente de tudo que fez e do que não poderá mais fazer, e ele querendo se afundar cada vez mais naquilo, principalmente depois de conhecê-la. Não acho que ele seja o mais complexo, talvez o mais perdido.
Ah sim, ele é mais complexo do ponto de vista da construção do personagem e por receber mais atenção no filme, mas uma valeria fazer outro longa só sobre a Judite, seus pensamentos e suas angústias. Uma pessoa crítica como ela que recebe uma sentença tão pesada deve viver num turbilhão de pensamentos bem complexos.
De fato ele recebe mais atenção da narrativa. A Judith aparece porque ela fez parte da história dele. Mas do ponto de vista da complexidade ainda acho que ela rouba a cena. O olhar, o turbilhão que existia dentro dela, as constatações sobre o que viveu (mais complexas que as dele), a coragem pra "se livrar" do menino, enfim, tudo que vi dela me fez acreditar que ela é muito mais complexa. Ele só teve mais espaço. Coisas de Thalita rsrs. Nem entendo nada de cinema mas foi o que eu senti, a impressão que tive.
Postar um comentário