Este belo filme nos mostra o deserto de Ladakh, na Índia. Rodeado por montanhas, o lugar proporcionou uma fotografia impecável ao longa de Nalin Pan, com algumas cenas lembrando o filme Camelos também choram, já comentado neste blog. Em meio a paisagens onde não podemos ver uma única árvore até onde a vista alcança está localizado o mosteiro Samsara, no qual monges budistas seguem suas vidas entregues à devoção religiosa. Muitos são deixados entre os monges ainda pequenos, com cinco ou seis anos, como o protagonista Tashi (Shawn Ku).
Após passar toda a infância e adolescência no mosteiro, para cumprir um ritual, Tashi passou três anos, três meses e três dias meditando – antes de pensarmos que são coisas de cinema, monges budistas garantem que isso é possível – e é resgatado pelos amigos muito magro, pálido, com cabelos e unhas imensos, levando certo tempo para sair o estado de letargia provocado por tanto tempo imóvel. Logo notamos um ponto muito bem trabalhado pelo diretor que são os sutis cortes de cenas para demonstrar a passagem do tempo. O comprimento dos cabelos, alguns detalhes do cenário ou algumas deixas nas falas substituem os dispensáveis “tantos meses depois”.
Readaptado ao cotidiano Tashi estaria pronto para seguir sua vida religiosa, mas quanto os instintos podem influenciar sobre a razão? O jovem monge começa a ser atormentado por sonhos eróticos e as ereções noturnas denunciam isto aos demais; para piorar ele se depara pela primeira vez com o seio nu de uma mãe prestes a amamentar, que mexe com seus sentimentos; depara-se com a bela Pema (Christy Chung); e certa noite tem uma polução. Quando um monge superior o questiona sobre seus desejos Tashi chega à conclusão que até mesmo o Príncipe Siddhartha Gautama, Buda, viveu quase trinta anos longe da clausura, e com este forte argumento optou por deixar Samsara.
Aqui aparece a primeira clivagem que o filme indica. Tashi toma um banho no rio, uma espécie de passagem que indica o abandono da vida voltada totalmente para a espiritualidade e o ingresso na vida mundana. Ao encontrar acidentalmente com Pema o casal proporciona a cena de sexo em que o diretor age de maneira brilhante, cortando as cenas de forma a oscilar a posição dos atores, virando o mundo de cabeça para baixo e fazendo com que ambos levitem em meio ao prazer. Mesclando sensualidade e delicadeza Nalin Pan faz a tomada perfeita, livre de vulgaridade e explorando os sentimentos provenientes de vários sentidos.
Entretanto nem tudo são flores na vida do jovem indiano. No pequeno vilarejo em que agricultores vendem a colheita para sobreviver Tashi se depara com sentimentos como inveja, tentações, ciúmes, etc. Ao tentar melhorar as condições de vida local, vendendo a colheita diretamente ao invés do tradicional intermediário, que pagava pouco e roubava ao fazer a pesagem do trigo, notamos mais uma clivagem. Aqui mais uma vez o longa se aproxima de Camelos também choram, pois em ambos os representantes de uma pequena e isolada vila vai até a cidade e notamos a discrepância dos estilos de vida. Aqui notamos que é uma história contemporânea devido à placa anunciando “Internet, acesse o mundo daqui”, mesmo em uma cidade do interior da Índia, bem diferente de uma metrópole. O sogro de Tashi abandona as vestimentas habituais, trocando-as por boné, óculos escuros, jaqueta, etc. e para as crianças trazem brinquedos industrializados, criticados por Pema, pois as crianças sempre fizeram seus próprios brinquedos.
A vida mundana de Tashi é atormentada por notícias de seu mestre, Apo (Sherab Sangey), que está muito doente. A estima pela vida religiosa que teve durante a infância e adolescência deixa o agora pai de família dividido. Traria mais satisfação abandonar a família e voltar ao monastério, ou abrir mão da vida espiritual a qual se dedicou desde os seis anos?
Em meio à grande dúvida particular surge com muita força a presença de Pema. Até então as escolhas de Tashi haviam sido individualistas, agora a esposa exerce sua influência, a responsabilidade de uma vida a dois e lembra que a história machista dos homens minimiza a importância de Yashodhara, esposa do Príncipe Siddhartha, antes deste se tornar Buda. Em um belo monólogo Pema lembra que Siddhartha é lembrado por abandonar uma vida de riquezas para vivenciar as mazelas do mundo, mas poucos pensam que abandonou também sua esposa e seu filho Rahul. A história menospreza a influência de Yashodhara colocando, como sempre, os méritos para os homens e relegando o ostracismo às mulheres.
Para saber se Tashi seguiu os passos de Buda deixando a família em prol da vida religiosa ou se ficou ao lado da esposa e filho é necessário ver o filme, que no final revela o enigma “como fazer com que uma gota d’água jamais seque”.
Só encontrei o trailer legendado em francês, mas não é difícil encontrar o filme em português.
Após passar toda a infância e adolescência no mosteiro, para cumprir um ritual, Tashi passou três anos, três meses e três dias meditando – antes de pensarmos que são coisas de cinema, monges budistas garantem que isso é possível – e é resgatado pelos amigos muito magro, pálido, com cabelos e unhas imensos, levando certo tempo para sair o estado de letargia provocado por tanto tempo imóvel. Logo notamos um ponto muito bem trabalhado pelo diretor que são os sutis cortes de cenas para demonstrar a passagem do tempo. O comprimento dos cabelos, alguns detalhes do cenário ou algumas deixas nas falas substituem os dispensáveis “tantos meses depois”.
Readaptado ao cotidiano Tashi estaria pronto para seguir sua vida religiosa, mas quanto os instintos podem influenciar sobre a razão? O jovem monge começa a ser atormentado por sonhos eróticos e as ereções noturnas denunciam isto aos demais; para piorar ele se depara pela primeira vez com o seio nu de uma mãe prestes a amamentar, que mexe com seus sentimentos; depara-se com a bela Pema (Christy Chung); e certa noite tem uma polução. Quando um monge superior o questiona sobre seus desejos Tashi chega à conclusão que até mesmo o Príncipe Siddhartha Gautama, Buda, viveu quase trinta anos longe da clausura, e com este forte argumento optou por deixar Samsara.
Aqui aparece a primeira clivagem que o filme indica. Tashi toma um banho no rio, uma espécie de passagem que indica o abandono da vida voltada totalmente para a espiritualidade e o ingresso na vida mundana. Ao encontrar acidentalmente com Pema o casal proporciona a cena de sexo em que o diretor age de maneira brilhante, cortando as cenas de forma a oscilar a posição dos atores, virando o mundo de cabeça para baixo e fazendo com que ambos levitem em meio ao prazer. Mesclando sensualidade e delicadeza Nalin Pan faz a tomada perfeita, livre de vulgaridade e explorando os sentimentos provenientes de vários sentidos.
Entretanto nem tudo são flores na vida do jovem indiano. No pequeno vilarejo em que agricultores vendem a colheita para sobreviver Tashi se depara com sentimentos como inveja, tentações, ciúmes, etc. Ao tentar melhorar as condições de vida local, vendendo a colheita diretamente ao invés do tradicional intermediário, que pagava pouco e roubava ao fazer a pesagem do trigo, notamos mais uma clivagem. Aqui mais uma vez o longa se aproxima de Camelos também choram, pois em ambos os representantes de uma pequena e isolada vila vai até a cidade e notamos a discrepância dos estilos de vida. Aqui notamos que é uma história contemporânea devido à placa anunciando “Internet, acesse o mundo daqui”, mesmo em uma cidade do interior da Índia, bem diferente de uma metrópole. O sogro de Tashi abandona as vestimentas habituais, trocando-as por boné, óculos escuros, jaqueta, etc. e para as crianças trazem brinquedos industrializados, criticados por Pema, pois as crianças sempre fizeram seus próprios brinquedos.
A vida mundana de Tashi é atormentada por notícias de seu mestre, Apo (Sherab Sangey), que está muito doente. A estima pela vida religiosa que teve durante a infância e adolescência deixa o agora pai de família dividido. Traria mais satisfação abandonar a família e voltar ao monastério, ou abrir mão da vida espiritual a qual se dedicou desde os seis anos?
Em meio à grande dúvida particular surge com muita força a presença de Pema. Até então as escolhas de Tashi haviam sido individualistas, agora a esposa exerce sua influência, a responsabilidade de uma vida a dois e lembra que a história machista dos homens minimiza a importância de Yashodhara, esposa do Príncipe Siddhartha, antes deste se tornar Buda. Em um belo monólogo Pema lembra que Siddhartha é lembrado por abandonar uma vida de riquezas para vivenciar as mazelas do mundo, mas poucos pensam que abandonou também sua esposa e seu filho Rahul. A história menospreza a influência de Yashodhara colocando, como sempre, os méritos para os homens e relegando o ostracismo às mulheres.
Para saber se Tashi seguiu os passos de Buda deixando a família em prol da vida religiosa ou se ficou ao lado da esposa e filho é necessário ver o filme, que no final revela o enigma “como fazer com que uma gota d’água jamais seque”.
Só encontrei o trailer legendado em francês, mas não é difícil encontrar o filme em português.
4 comentários:
Me chamo lima sousa. Sou budista da tradição kadampa. Ainda não tinha visto ao filme Samsara. Muito rico em detalhes para os conhecimentos que são vastíssimos dentro do ensinamento de BUDA. Mas, meu cometário em primeiro lugar, é parabeniza-lo por tão clara escrita e agradável também. Adorei ler sua explicação. Te desejo muito sucesso. Continue com seu blog. Vou segui-lo. Bom 2015.
Sou fashion jornalista. Deixo aqui o endereço do meu blog que fará em 2015 um ano, tendo inciado carreira na tv do ceará, e agora em versão digital neste endereço: www.portalmodaearte.blogspot.com
No facebook, também temos uma fãpage onde cumprimos uma programação de segunda a sexta. Visite-nos. Ah, o meu face é Lima Sousa. Vou seguir seu blog. Sucesso.
Obrigado pela visita e pelo comentário! Não sou budista, então dei mais ênfase no que o filme me trouxe, gostaria que fosse mais popular por aqui, pois temos muito o que aprender com ele!
Amei o filme não sou budismo sou cristão mas dependendo do credo é um belíssimo filme e muito interessante até mesmo, nos faz refletir, porque em vários momentos em nossas vidas temos tomar decisões e ela pode mudar toda a nossa vida.
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