terça-feira, 7 de junho de 2016

Whisky

A partir de uma pequena fábrica de meias em Montevidéu os diretores Pablo Stoll Ward e Juan Pablo Rebella desenvolvem um enredo baseado em relações de poder e aparências, sempre com fortes bases econômicas e situações inusitadas formando uma comédia discreta, que nos faz rir sem apelações, somente escancarando situações plausíveis e cômicas por si só.

A fábrica em questão é do judeu Jacobo (Andres Pazos), quase uma versão contemporânea de Tempos Modernos, ou seja, com máquinas mais compactas e produtivas do que as retratadas no longa de Charles Chaplin, mas que ainda demandam um pouco de mão-de-obra, que no caso é restrita à somente três funcionárias.

Com uma rotina extremamente repetitiva, as costureiras são praticamente uma engrenagem a mais das máquinas. Chegam sempre no mesmo horário, executam a mesma tarefa, produzem as mesmas meias. Tudo extremamente mecânico e repetitivo. Mesmo Marta (Mirella Pascual), a secretária de Jacobo, com muito mais proximidade do chefe, seguia uma rotina bastante restrita, chegando antes da fábrica ser aberta e se esforçando para fazer sempre mais do que suas tarefas.

Esta rotina que nunca forneceria elementos para um roteiro de filme é alterada quando Herman (Jorge Bolani), irmão de Jacobo, vem do Brasil para uma cerimônia judaica. Também dono de uma fábrica de meias, o irmão que deixou o país tem uma coisa a ser invejada por Jacobo; uma família. É bem provável que o protagonista não dê um valor pessoal para isso, mas uma forte pressão social faz com que ele queira que o irmão acredite que ele é casado. A forma mais rápida encontrada para resolver o impasse é propor para Marta que finja ser sua esposa, casados há um ano. 

Chama a atenção o fato do filme ter poucos diálogos. Sem dúvida o principal responsável por isso é Jacobo. Extremamente introvertido e quieto, sendo que até o rádio das funcionárias ele prefere que permaneça desligado, o personagem também não abre muito espaço para diálogo, sendo econômico em suas afirmações e mais ainda em suas respostas.

Dessa forma boa parte das ações e reações são justificadas pela suposição de quem assiste. Difícil saber se Marta realmente queria encenar o papel de esposa ou se foi coagida de forma implícita pelo patrão, ao qual acatava todas as ordens dentro da fábrica. Da mesma forma que é possível ter estendido essa autoridade para a vida pessoal, também é compreensível que a funcionária solitária e restrita às atividades repetitivas do dia-a-dia, tenha aceitado a proposta já considerando certa amizade com o misterioso patrão.

Independente do que tenha motivado Marta, a relação de dependência econômica segue latente. Ela continua exercendo o papel de secretária que deve antecipar problemas e solucioná-los, enquanto ele somente dá a palavra final. Sem uma competência própria, o único fator que o torna superior é seu próprio dinheiro.

Quando pensamos no casamento tradicional de uma sociedade machista, onde o homem dá ordens simplesmente por ser homem, vemos que essa relação de dominação costuma se estender com muita facilidade para o ambiente corporativo, onde a esposa que cuida de todos os detalhes do lar para agradar o marido é substituída pela secretária, subserviente pelo poder econômico.

O que assemelha as relações retratadas é o machismo histórico, que fica mais evidente com Jacobo tendo vivido com a mãe até a morte dela, há somente um ano. Tendo passado a vida toda sob os cuidados maternos e, ao que parece, cultivando uma longa relação empregatícia com Marta, a única esfera que lhe faltava era realmente a matrimonial.

A família de Herman não é mostrada, mas com esposa e filha, tendo saído da casa da mãe há muito tempo, é claro o desconforto que sua presença provoca no irmão. Até mesmo a personalidade mais despojada e altiva parece incomodar Jacobo, que faz de tudo para mostrar que seu sucesso pessoal é equiparado ao do irmão. 

Seria absurdo apontarmos o protagonista como vítima do machismo, afinal, como já indicado, ele passou a vida toda sob os cuidados da mãe e da secretária, porém vale a pena indicar o quanto a necessidade de exercer um papel social absurdo também traz incômodos. Na ânsia de se apresentar como um homem de sucesso, que na lógica machista deve incluir uma esposa, o desconforto é claro. Parece que esboçar uma felicidade, como o filme indica, só mesmo com whisky. 


2 comentários:

Edson Müller disse...

Comentário idiota, machismo pra cá, machismo pra lá, tudo é machismo. Não existe outra visão sem este estereótipo para o filme, sem cair nesta vala comum?

Alexandre disse...

Pois é, cada filme suscita uma infinidade de interpretações, algumas geniais, outras idiotas. Existem várias plataformas de blogs gratuitas - Blogspot, Wordpress, Medium... - é só criar um e escrever uma análise não idiota. Abraço!

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