terça-feira, 22 de agosto de 2017

Comandante

Oliver Stone teve uma oportunidade rara. Entrevistar por cerca de trinta horas um dos mais icônicos personagens do século 20. Fidel Castro respondeu diretamente a todas as perguntas, sem assessores ou intermediários, somente com o auxílio da tradutora Eugenia Gobbato, que já trabalhava com o Comandante há décadas.

Ao longo de todo o filme é possível ouvir a voz da tradutora, às vezes se sobrepondo aos protagonistas. Talvez o diretor tenha buscado a confiança do conteúdo, com uma tradução simultânea que não deixa dúvida quanto ao que foi questionado e respondido.

Uma das preocupações de Stone é deixar claro que ofereceu a Fidel a possibilidade de vetar questões ou refilmar o que considerasse inadequado. Nada disso foi requisitado pelo cubano. Sempre sereno e bem humorado, quando ainda estava no comando da ilha, Fidel respondeu a tudo o que foi questionado de forma simples e direta. Aparentemente os longos discursos, marcantes na vida do Comandante, eram feitos mais com cunho político do que como uma forma natural de se expressar.

O trabalho do diretor não deve ter sido nada fácil. É uma vida repleta de fatos importantes que, após ser condensada nas horas de entrevistas, ainda deve ser resumida em pouco mais de uma hora e meia. Um documentário de entrevista não deve ser muito longo, sobretudo quando não há muitas externas nem variação de entrevistados, pois independente do tema, fica difícil prender a atenção de quem assiste.

Stone consegue compor um documentário fluído, que retrata pontos importantes da vida política do Comandante sem abrir mão de mostrar a vida do homem por trás do governante. O menor destaque à vida particular é compreensível por se tratar de uma figura com peso político internacional, além de que os hábitos de Fidel não ficavam muito distantes de sua atividade profissional. Seus estudos e reflexões costumavam tomar mais tempo que as distrações ou descanso.

Desde a Revolução Cubana, em 1959, o governo começou a investir no cinema, como uma forma de entreter e politizar a população. Inclusive os documentários cubanos são uma das marcas culturais do país, tendo revelado diversos diretores especializados no gênero.

É bem provável que a escolha de um diretor norte-americano, mesmo com profissionais hábeis dentro do próprio país, se justifique pela busca de uma isenção política. Nenhum documentário é plenamente imparcial, sobretudo ao abordar um assunto político e tão divergente quanto o governante cubano, mas um documentarista local seria inevitavelmente taxado de parcial ou até de um conchavo político.

O trabalho de um diretor vindo do país vizinho e inimigo histórico elimina a hipótese de ameaças ou chantagens políticas por parte de Fidel e, uma vantagem que ultrapassa a paranoia de um líder político supostamente onipotente, dá ao filme uma visão de fora da Ilha.

Mesmo que Oliver Stone tenha formado sua visão de Cuba com base no noticiário norte-americano, ou seja, com notícias voltadas à formação de um inimigo ideológico, seu trabalho como documentarista teve o viés de esclarecimento de fatos obscuros a quem está fora de Cuba, fazendo com que Fidel se apresente diretamente a estrangeiros através do documentário.

Ao abordar um tema tão controverso, que envolve opiniões passionais extremas, é inevitável que críticas sejam feitas por ambos os lados. Há quem diga que Stone foi complacente com Fidel e evitou temas polêmicos; outros apontam a omissão de aspectos positivos do governo cubano ao longo de mais de quarenta anos.

Parece que Oliver Stone apenas cumpre o papel de um entrevistador. Ao invés de demonizar Fidel para corroborar a versão norte-americana da história, ou glorificar a vida do Comandante cubano a partir de suas próprias palavras, o filme mostra um velho governante, com virtudes e defeitos.

Fidel fala abertamente sobre fatos históricos, assume erros e exalta qualidades, semelhante à forma com que qualquer um se descreveria, com a evidente diferença de seu peso na geopolítica mundial.

Independente de qual seja o posicionamento político de quem assista ao documentário, verá um líder político que passou boa parte da vida sob a mira da CIA, enfrentou grandes potências amparado por uma pequena ilha e não apenas superou problemas sociais crônicos na América Latina como passou a oferecer ajuda humanitária a outros países com menos recursos.

Erros e críticas são inevitáveis para qualquer governante. Talvez mais produtivo que uma tentativa de demonização dos feitos da Revolução Cubana, fosse uma análise de seus logros, a serem alcançados sem passar pelos mesmos equívocos.


2 comentários:

João Luiz Pereira Tavares disse...

E o PT?
Na cultura só lixo: e isso é esquecido sempre!
Pois é…
Mas o PT dominou o Brasil com todo tipo de LIXO
(lixo esse que nem era da “corte”, mas “pop” — baixa-cultura).
O PT nivela por baixo…
——
Um dos ícones decadentes do PT é o Caetano Veloso. rsrs
«Caetano Meloso ser primitivo e inferior»
Tanto subliminarmente,
 como espiritualmente.
Caetano Veloso Comparado com o musicista Bach

é um ser do mundo inferior.

Regressão da audição, as tais musiquinhas.
Não tem nada a ver com gôsto. Ele é musiquinho mesmo, fraco.
Cento e dez zeros
à esquerda de Beethoven.
Portanto a política cultural do PT era (e é) lixaço.
Ponto final.

==== FIM ====

Alexandre disse...

Oi, João! Obrigado pela visita e pelo comentário. Na verdade o documentário não aborda nem PT nem Caetano Veloso, mas é sempre bom ter contato com pontos de vista divergentes! Abraços, direto do mundo inferior =)

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