O longa dirigido por Anna Muylaert gira em torno dos encontros e desencontros de um casal. Até aqui poderia ser mais um filme romântico, mas o que chama a atenção é que Baby (Gloria Pires) e Max (Paulo Miklos) não são adolescentes descobrindo a vida e buscando um conto de fadas; ambos na meia-idade, com a vida estruturada e morando sozinhos, se conhecem quando Max aluga o apartamento ao lado de Baby, que logo percebe algo especial no novo vizinho.
É de se esperar que a maturidade ofereça a possibilidade de lidar melhor com as adversidades de um relacionamento e que as experiências acumuladas ao longo do tempo facilitem nas escolhas individuais, para que estas reflitam numa vida a dois mais prazerosa – tanto para evitar erros quanto para saber lidar com os erros do outro. Porém nem sempre essa vantagem que o tempo nos oferece é aproveitada, de forma que vemos Max ainda muito ligado ao seu antigo relacionamento e Baby sem saber o que fazer para controlar as crises de ciúme.
Se por um lado o casal pode contar com a experiência, por outro a companhia da solidão durante os anos implica em hábitos bastante rígidos, que dificulta o súbito convívio com alguém até então desconhecido, que inevitavelmente vai demandar certas mudanças de comportamento. Aqui essa característica é mais notada em Baby, que aparenta ser mais solitária, introspectiva e preza pelas coisas feitas ao seu modo, implicando até com a irmã por um sofá deixado de herança. Já Max tem uma vida mais solta, faz novos amigos até no balcão da padaria, reúne sua banda em uma divertida festa – para desespero da namorada que vê seu apartamento, até então sempre vazio, cheio de gente desconhecida, com quem ainda acaba disputando a atenção de Max.
De um casal promissor, que a primeira vista tem tudo para dar certo por, aparentemente, terem muito a acrescentar um ao outro, passamos pouco a pouco a acreditar que as diferenças são muitas e cada vez mais gritantes, ao ponto de provavelmente inviabilizar a relação. Mas não ficam claros durante o filme os motivos que levaram Baby a viver sozinha. Podemos no máximo, pelas suas atitudes, supor um exagerado rigor em relação às pessoas ou o fato de não abrir mão de sua personalidade. O fato é que independente do que ocasionou a solidão da moça, ela realmente está disposta a mudar isso e investir em seu novo relacionamento e parece que o desafio dela em relação às mudanças necessárias para uma vida junto com outra pessoa, será maior.
É evidente que nem tudo se resume a desafetos entre o casal e os detalhes de afeto acabam, pouco a pouco, fazendo a diferença para que ambos se esforcem a continuar. Os ensaios com a banda incomodam, mas o gosto por música é o mesmo; o apartamento, que antes era exclusivo e agora passa a ser dividido, também proporciona bons momentos juntos. Enfim, a tolerância aos pequenos conflitos e a disposição de mudar pequenos hábitos pode contribuir para o aumento da cumplicidade do casal, ajudando a superar dificuldades realmente relevantes. É possível identificar uma metáfora interessante para ver que tolerar os vícios alheios é melhor do que impor uma mudança, que pode culminar em tragédia.
“É proibido fumar” mostra muitas proibições que somos tentados a atribuir aos relacionamentos, entretanto qualquer tipo de contato impõe restrições com as quais não teríamos que nos deparar quando sozinhos, o que não é necessariamente ruim, já que em contrapartida esses contatos também nos estimulam, ensinam e oferecem a oportunidade de nos tornarmos pessoas melhores, cabe a cada um aproveitar ou não tais oportunidades.
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